sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Noivas em Guerra


Existem atrizes que começam como uma promessa e se tornam uma decepção; outras não parecem nada de especial a princípio, mas com o tempo e certa dose de dedicação provam seu valor. Kate Hudson se encaixa na primeira categoria: revelada como a groupie Penny Lane do ótimo Quase Famosos, com o passar dos anos virou uma cópia (em aspecto físico e perfil profissional) de sua mãe, Goldie Hawn. Já Anne Hathaway ficou famosa com o sucesso teen O Diário da Princesa, mas seguiu na contramão do que se espera de uma estrelinha adolescente: seja numa comédia como O Diabo Veste Prada ou num drama como Brokeback Mountain, Anne manteve a constante de escolher bons papéis em filmes de bom nível e este ano obteve sua primeira indicação ao Oscar de melhor atriz (por O Casamento de Rachel, que estréia semana que vem). Portanto, não é surpresa que Kate esteja em um filme como Noivas em Guerra; difícil é entender porque Anne está a seu lado.

No filme, Kate é Liv e Anne é Emma. As duas são melhores amigas desde a infância e têm um ideal em comum: casar no mês de junho com uma festa inesquecível no Hotel Plaza de Nova Iorque, sonho alimentado desde que, ainda meninas, assistiram a uma cerimônia lá neste mês. Por uma dessas coincidências que só acontecem em comédias românticas, as amigas são pedidas em casamento quase simultaneamente. Nada poderia ser mais genial, se um erro cometido pela empresa de cerimoniais não tivesse marcado o casamento de ambas para a mesma data. Liv, advogada de sucesso que não está acostumada a ser contrariada, espera que Emma seja flexível e mude sua data. Emma, cansada de estar em segundo plano, quer uma vez na vida ter a preferência. Está declarada a guerra entre as ex-melhores amigas.

O argumento já é uma bobagem, que só se sustenta graças a não uma, mas toda uma série de coincidências e tropeços que atrapalham o caminho das amigas. Toda a trama já parte do absurdo da melhor organizadora de casamentos da cidade cometer um erro dessa magnitude. E o pior é que a tal parece não dar a mínima para o problema causado por sua empresa. Atitude temerária quando se tem como cliente uma advogada, mas tudo bem. Outra estranheza é que o fato de, meses antes, ter três datas disponíveis para o Plaza em junho, e dias depois, ou seja, feita a confusão, a mesma organizadora toda-poderosa dizer que a próxima data vaga em junho seria para dali a três anos.

Esses são apenas pequenos exemplos do nível de insanidade de toda a trama que, mesmo sendo uma comédia, não necessitava partir de pressupostos tão pouco verossímeis. Isso sem contar a facilidade absoluta que as protagonistas têm para sabotar uma à outra. Liv entra numa clínica de bronzeamento artificial onde está Emma e simplesmente vai até a máquina e troca o tubo, alterando a tonalidade do bronzeado da amiga; Emma invade o salão onde Liv está retocando os cabelos e troca sua tinta com a mesma facilidade. O que essas meninas têm, uma capa da invisibilidade?


Kate Hudson compõe Liv com a mesma caricatura de mulher mandona e ambiciosa, metida a sabe-tudo, que tem apresentado em todos os seus papéis recentes. E ela não está sozinha: a veterana Candice Bergen repete praticamente o mesmo papel de Miss Simpatia, ou seja, de perua ícone de bom-gosto e sofisticação. Somente Anne Hathaway consegue dar um pouquinho mais de nuances à sua personagem, uma professora pacata e de índole conciliadora – o que não significa que ela seja uma mosca-morta. Mas assim como uma andorinha só não faz verão, o esforço individual de uma atriz não salva um filme ruim. Não quando o diretor Gary Winick – que também fez o simpático De Repente, 30 – liga o piloto automático e deixa o barco navegar à deriva.

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