quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Leitor


Stephen Daldry foi indicado ao Oscar de melhor diretor em três ocasiões. Até aí, nada demais. Muita gente já concorreu a essa estatueta mais vezes do que ele. O grande diferencial é o fato de Daldry ter dirigido apenas três longas em sua carreira: o simpático Billy Elliot (2000), o emocionalmente devastador As Horas (2002) e, agora, O Leitor. É preciso acrescentar, ainda, que tais indicações são mais do que justas, já que a curta filmografia do cineasta britânico faz grande contraste com a alta qualidade de seus filmes.

Quase todo passado em flashbacks, O Leitor gira em torno de segredos enterrados que assombram um homem por toda sua vida. Aos quinze anos, Michael se apaixonou por uma mulher austera, misteriosa e vinte anos mais velha, Hanna. Com o tempo foi ficando difícil sustentar o relacionamento e um dia, depois de um desentendimento, ela achou por bem sumir e não procurá-lo mais. O que deveria ter sido um romance de verão sem maiores traumas ganhou proporções dramáticas quando, anos mais tarde, Michael reencontra Hanna. Ele é um estudante de direito acompanhando um julgamento de crimes de guerra; ela está no banco dos réus.

Em comum com As Horas, O Leitor tem a preponderância que a literatura tem na vida de seus personagens principais. Uma das características do relacionamento entre Michael e Hanna é o prazer que ela tem em ouvi-lo ler em voz alta para ela, ao mesmo tempo em que a atividade simboliza para ele um modo de ganhar autoconfiança e maturidade. Mais do que uma bela referência, o ritual dos amantes tem um papel muito importante adiante no filme. E a literatura também influi bastante na estrutura do filme, como, por exemplo, quando um professor explica a Michael que toda história parte de um segredo que algum personagem guarda e, por alguma razão nobre ou mesquinha, não quer partilhar. Hanna tem um segredo, Michael logo terá o seu também. As razões de ambos parecem muito mais mesquinhas do que nobres, mas a comovente trama vai aos poucos ensinando ao espectador o quanto é complicado julgar os atos alheios.


O Leitor é uma história onde nada é exatamente o que parece e as cores possuem muito mais matizes cinzentos do que preto e branco. E um dos fatores principais para o ótimo resultado final é ter uma atriz versátil e incrivelmente talentosa como Kate Winslet em um papel cheio de nuances como o de Hanna. Alternando rigidez e doçura, força e fragilidade, paixão e frieza, a atriz arrasa em cena. Uma atuação que não pode ter outro resultado que não seja sua consagração com o Oscar no próximo dia 22. Inclusive um dos motivos que me deixou mais ansiosa para assistir a esse filme foi justamente o fato dela ter sido indicada por esse papel e não por Foi Apenas um Sonho. Confesso que não sei em qual filme ela está melhor, mas talvez a balança tenha pesado mais para esse por conta das diferentes fases da personagem. O personagem Michael é dividido entre Ralph Fiennes na fase adulta e David Kross na adolescência. Fiennes, é claro, dispensa maiores apresentações. A (boa) surpresa é Kross, de apenas 18 anos, que além de ser bom ator também tem boa química com Kate e – mais importante – consegue não se intimidar diante da profunda carga emocional da estrela. Completando o elenco irretocável, Bruno Ganz (o Hitler de A Queda) faz participação de luxo como o professor de direito de Michael.

O Leitor é mais um excelente filme deste comecinho de 2009 abençoado para a sétima arte. Nessa época, devido à corrida para os Oscars, sempre temos a impressão de que o ano que se inicia será repleto de maravilhas cinematográficas. Não é à toa que em dezembro, ao fazer um balanço dos melhores filmes aos quais assisti, sempre reparo que grande parte da lista estreou em janeiro ou fevereiro.

2 comentários:

  1. Dinda,
    adorei este filme. O trabalho de Kate é de arrepiar. O filme é, realmente, uma pérola!
    Beijo!

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  2. Ainda acho que a Kate merecia o oscar, mas sim pelo contexto de "Oscar de atriz coadjuvante", essa categoria que cabe. Nesse ano, eu preferia ver a Meryl Streep premiada pela sua soberba atuação no "Dúvida".

    E, convenhamos, Winslet desenvolveu papéis mais surpreendentes e marcantes como Rose de Titanic e nos filmes Brilho eterno de uma mente sem lembranças, etc.

    Mas, é um ótimo filme e eu assumo minha paixão por Stephen Daldry...acho Billy Elliot muito mais que simpático, um filme totalmente perfeitinho...

    abraço

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