quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Frost/Nixon (ou “o quinto indicado”)


Adaptado pelo premiado roteirista Peter Morgan (A Rainha) partir de sua própria peça teatral, a trama é focada em uma célebre entrevista concedida por Richard Nixon ao apresentador britânico David Frost em 1977 – três anos após o escândalo Watergate, que culminou com sua renúncia da presidência dos Estados Unidos. Vale lembrar que Nixon vinha se mantendo em silêncio absoluto antes de resolver aceitar o convite de Frost. E não foi nada por acaso que a velha raposa escolheu justamente como entrevistador uma figura até então conhecida basicamente por comandar programas de entretenimento fúteis. Além do cachê oferecido por Frost ser superior ao oferecido por jornalistas mais conceituados, Nixon e seus assessores achavam que um playboy inexperiente em política não seria ameaça ao esperto ex-presidente, que poderia aproveitar a chance para limpar sua barra com os cidadãos e assim pavimentar sua volta ao poder.

Um dos maiores elogios que se vem ouvindo a respeito deste filme é o fato dele ser o melhor da carreira de Ron Howard, o que não quer dizer tanta coisa assim. Howard é um cineasta competente, mas que dificilmente seria considerado autoral. Se considerarmos que trata-se de um filme adaptado pelo próprio autor da peça que o inspirou e que a produção acertadamente manteve os mesmos atores que desempenharam os papéis principais no palco durantes dois anos, a pouca personalidade do diretor é mais um bônus do que um problema. Tudo que ele precisava fazer era não estragar o material que tinha em mãos.

Frank Langella e Michael Sheen estão ótimos em cena e são bastante ajudados pela montagem esperta, fundamental especialmente durante a parte central do filme, quando as entrevistas já estão rolando para valer. Cortando de entrevistado para entrevistador, e deles para a reação (aliviada ou desesperada) dos assessores de cada oponente, o filme faz com que até mesmo o espectador que não tem nenhuma vivência política compreenda de imediato quem está por cima do embate naquele momento. O conjunto de reações faz com que a trama flua sempre tensa e objetiva, independente do conhecimento político de quem assiste. Também é bacana o formato documental, que coloca os atores dando declarações para a câmera como se fossem as figuras reais.

Mas o mais interessante no longa não é exatamente o enfrentamento diante das câmeras e sim os motivos ocultos por trás dele: de um lado, alguém que precisa se firmar e conquistar o respeito que nunca teve; de outro, alguém que já teve o respeito de uma nação inteira e quer desesperadamente reconquistá-lo. Como observa Frost em um diálogo, apenas um deles pode ser vitorioso e isso significa o aniquilamento do outro. Não há fracasso honroso, não há meio-termo.

Em um ano repleto de projetos inusitados e de temáticas diversificadas, Frost/Nixon seria, dentre os cinco candidatos, o mais importante do ponto de vista histórico. Mas, apesar de todas as suas indiscutíveis qualidades, Frost/Nixon é o que tem menor impacto como filme. Não provoca a mesma explosão de arrebatamento de Quem Quer Ser um Milionário?. Não comove pela poesia e beleza como Benjamin Button. E tampouco é ancorado por um elenco tão esplendorosamente inspirado como ocorre em relação a Sean Penn e cia. em Milk. Nem mesmo provoca a mesma reflexão que O Leitor, que seria o mais tradicional dos filmes aqui citados.

Claro que Frost/Nixon é um filme de alto nível e que mereceria estar dentre os candidatos ao Oscar de melhor filme, caso sua inclusão não tivesse deixado de fora pelo menos três filmes superiores a ele: Foi Apenas um Sonho, Gran Torino e Batman – O Cavaleiro das Trevas. Dito isso e sem querer ferir a sensibilidade de ninguém, faço uma avaliação muito pessoal das minhas preferências quanto aos cinco indicados deste ano:

Quem Quer Ser um Milionário? – 10
O Curioso Caso de Benjamin Button – 10
Milk – 9
O Leitor – 8,5
Frost/Nixon – 8

4 comentários:

  1. Olá, Érica! Tô me viciando no seu blog. Mas veja só como os gostos são diferentes, gostei muito de Frost/Nixon e não acho Milk e Benjamin Buton grande coisa. E pensando bem Milk está mais pra 5º indicado que Frost/Nixon
    Se fosse pra fazer lista a minha ficaria assim:
    1ºSlumdog Millionare 10
    2ºO leitor 10
    3ºFrost/Nixon 9
    4ºBenjamin Button 8,5
    5ºMilk 8,0 (trocaria na boa por Foi apenas um sonho).

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  2. Olá Wellinton!

    Mesmo discordando sobre os outros filmes, concordamos em dois pontos importantes: a) Slumdog Millionaire é o melhor dos cinco; b) Foi Apenas um Sonho merecia mais atenção da parte da Academia.

    Agora é ver no domingo o que os votantes decidiram. Torço por Slumdog, Danny Boyle, Kate Winslet, Sean Penn, Heath Ledger (esse nem precisa torcer) e Marisa Tomei.

    Abração!

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  3. São todos bons filmes, mas eu também trocaria a ordem...ficaria:

    - Frost/Nixon
    - Slumdog Millionaire
    - Benjamin Button
    - Milk
    - O Leitor

    E parece que a lista dos vencedores já vazou na internet (!)

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