quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Segurando as Pontas


Imaginem um típico filme de ação americano, daqueles com tiroteios, correria e perseguição de carros. Imaginaram? Agora imaginem uma trama dessas protagonizada por dois maconheiros chapadões. Como assim? Este é o mote do divertidíssimo Segurando as Pontas.

Dale Denton trabalha entregando intimações judiciais e, graças à sua flexibilidade de horário, pode levar a vida dos seus sonhos. Entre uma intimação e outra, faz paradas estratégicas na escola da namorada adolescente e no apê de Saul, seu fornecedor de drogas preferencial. Numa dessas visitas, Dale é apresentado ao pineapple express do título original, droga de altíssima qualidade da qual Saul se orgulha de ter exclusividade na cidade. Logo depois, ao tentar entregar uma intimação, Dale testemunha uma policial e um chefão local assassinarem um traficante rival. Ele fica apavorado e foge, mas deixa cair a bituca que estava fumando. Claro que sendo Saul o único fornecedor daquela iguaria rara, em dois tempos ambos – doidões e jurados de morte – têm que empreender uma fuga desesperada.

Só o prólogo do longa, que mostra militares fazendo experiências sigilosas com a cannabis em uma base secreta, já faz o filme valer a pena. Mas isso é apenas o aperitivo de um filme extremamente anárquico, politicamente incorreto e, sobretudo, muito engraçado. As cenas de ação desenfreada somadas a diálogos intencionalmente piegas fazem com que o longa também seja uma irreverente paródia dos filmes de macho – os chamados buddies movies. O roteiro também faz referência às histórias com duplas de policiais, onde um é sempre mais certinho e outro mais destemido – vide a série Máquina Mortífera. Claro que falar em maconheiro certinho parece uma contradição de termos, mas o gordinho e desengonçado Seth Rogen é o que existe mais próximo de herói no filme, enquanto James Franco é um viajandão carente e afetuoso que não tem nem noção do perigo que corre. Franco está simplesmente sensacional neste papel, numa desconstrução total do seu habitual papel de bonitinho sem sal. O ator teve uma indicação ao Globo de Ouro por esse papel, o que é uma enorme façanha, considerando o caráter outsider do filme. Uma das coisas que ficamos sabendo nos extras do DVD é que originalmente os atores interpretariam os papéis inversos, mas preferiram quebrar os padrões e colocar o bonitão no papel mais lesado. Os extras, aliás, são bem legais e trazem cenas excluídas e/ou extendidas, making of e entrevistas com a equipe.

Segurando as Pontas foi exibido no Festival do Rio do ano passado e recentemente apareceu direto nas prateleiras de DVD. Também é um dos poucos casos em que um título totalmente alienígena funciona melhor do que o original. Então, esqueçam suas opiniões contra ou a favor da descriminalização da maconha – nem preciso dizer que posição o filme expressa –, suspendam o preconceito com o tema e divirtam-se. O filme vale pelas suas qualidades como a excelente comédia que é. O debate sério sobre o assunto a gente deixa para o contexto apropriado.

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