domingo, 8 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção


Rush – mais um filme a ganhar um dispensável subtítulo nacional – é ambientado entre 1970 e 1976 e acompanha a feroz rivalidade entre dois pilotos de Fórmula 1. O inglês James Hunt e o austríaco Niki Lauda eram os mais talentosos de sua época e tiveram trajetórias semelhantes, mas possuíam personalidades totalmente opostas. Hunt era puro instinto e gostava de viver no limite dentro e fora das pistas. Playboy, mulherengo, boêmio, passional e sempre cercado de amigos, encarava o trabalho como uma constante fonte de adrenalina. Já Lauda era perfeccionista, metódico e dizia estar nesta vida simplesmente porque se considerava o melhor. Seus modos diretos e sua ausência de qualquer traquejo social faziam dele um profissional respeitado, mas de poucos amigos. Em comum, os dois tinham apenas uma necessidade quase insana de se provar melhor do que o outro.

Rush é dirigido por Ron Howard, um cineasta em geral competente, mas que não prima pela originalidade ou ousadia. A julgar por sua filmografia, Howard parece ter um fraco por histórias reais ou personagens em busca de superação. O resultado obtido neste Rush, quem diria, mostra-se acima do esperado: a sua direção é enxuta e imprime um ritmo bastante interessante ao longa, conseguindo, inclusive, transformar o automobilismo em matéria vibrante. A parte técnica também é eficiente, com destaque para o realismo das cenas de corrida. O que não empolga tanto é o roteiro atrapalhado de Peter Morgan, que toma ares maniqueístas em diversas passagens e derrapa em desenvolver James Hunt.


Com um personagem menos trabalhado dramaturgicamente, Chris Hemsworth acaba, mais uma vez, refém da própria beleza. O seu potencial como ator e seu esforço em crescer na carreira são evidentes, mas seus dotes físicos vêm sendo tão maciçamente explorados em todos os filmes dos quais participa que fica difícil analisar sua interpretação. Em Rush não é diferente, o moço já mostra o derrière com menos de cinco minutos de projeção. Com Daniel Brühl a história é outra: embora também seja um homem bonito (sem a caracterização de Niki Lauda), o alemão-catalão nunca construiu sua carreira em cima da imagem. Como não podia deixar de ser, Brühl se impõe desde o início do filme; não apenas por ter o melhor personagem, mas também por ser um ator mais seguro. Seu Niki Lauda freak, egocêntrico e, ao mesmo tempo, munido de uma sinceridade desconcertante é o destaque absoluto do filme.


Mais interessante do que as lições de moral sobre amar alguém e ter coisas a perder que o roteiro tenta nos empurrar é o indisfarçável afeto que transparece sob toda aquela rivalidade entre os protagonistas, deixando claro que tanto Lauda como Hunt desejavam equilibrar suas vidas com aquela centelha genial do rival que lhes faltava  podemos dizer que a soma dos dois criaria o esportista perfeito. Enfim, é um alívio constatar que Rush é um filme que se detém mais em pessoas do que em carros e velocidade e que poderá ser apreciado mesmo por aqueles que não gostam de Fórmula 1.  

Para o público brasileiro, fica de bônus a curiosa cena de um GP de Interlagos animado por passistas de escola de samba (vestidas a caráter). Podíamos ter sido poupados dessa.



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