segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Chegará o Dia


Sabem quando o filme já não começa muito bem, mas, ao longo da projeção, piora a cada instante? Assim é este longa: cheio de boas intenções, ambiciona contar mil histórias, mas não consegue alinhavar a contento nenhuma delas – o que faz com que o seu desenvolvimento fique a cada minuto mais problemático. Augusta (a atriz Jasmine Trinca, também protagonista de Mel) resolve vir para o Amazonas depois que seu casamento desmorona e ela entra em crise. De formação católica, primeiro ela auxilia uma freira que tenta evangelizar aldeias indígenas, mas logo surgem divergências de opinião e ela decide continuar sua busca interior por conta própria.

A primeira coisa que incomoda no filme é sua visão excessivamente “gringa” do ambiente que tenta relatar, o que gera uma ingênua exaltação da miséria e da pobreza. Augusta aluga um quarto no que parece ser a comunidade mais pobre de Manaus e fica lá lavando roupa na bica e andando sobre palafitas na maior felicidade. Logo, está envolvida nos problemas do local e é nesse ponto que o roteiro desanda de vez, ao tentar inserir muitos assuntos paralelos. Primeiro, ela demonstra interesse por um rapaz; depois, o rapaz dá sinais se envolver com políticos desonestos que querem expulsar os habitantes dali; tem, ainda, uma situação de uma criança sendo vendida pelo próprio pai. Esses são apenas alguns dos temas que são jogados na história para, logo a seguir, serem deixados de lado.

O filme tem, ainda, um núcleo na Itália que não tem absolutamente nenhuma relevância para a história. São cenas da mãe de Augusta (que tem uma expressão de mártir em absolutamente todas as tomadas) conversando com a filha pela internet ou respondendo às pessoas que perguntam sobre ela. Esse núcleo fica ainda mais desconexo quando a freira com quem Augusta trabalhava chega lá levando uma amazonense (e não se entende o porquê).

Com tantas vertentes criadas, o roteiro se perde e o diretor em vez de tentar amarrar as pontas soltas resolve passar a meia hora final do filme mostrando incontáveis cenas de Augusta pensativa no meio da floresta, tomando banho de rio, abraçando uma árvore, e por aí vai. Como se ele tivesse desistido de vez de contar a história (aliás, as histórias). Chega ao ponto em que a perplexidade é tão grande que não dá mais nem para se aborrecer.

Mostra Panorama


Nenhum comentário:

Postar um comentário