sábado, 28 de setembro de 2013

Entrevista com os diretores de Salvo

Antonio Piazza (à esquerda) e Fabio Grassadonia (à direita) posam diante do cartaz de Salvo

Os sicilianos Antonio Piazza e Fabio Grassadonia estão com tudo: já no primeiro longa como diretores, voltaram do último Festival de Cannes com o Grande Prêmio da Crítica. Agora eles estão no Festival do Rio e concederam essa entrevista exclusiva onde falam sobre o processo de realização do filme, suas influências e, como bons italianos, um pouco de política e crítica social também. Salvo é uma história de vingança e redenção que se passa em um bairro de Palermo dominado pela máfia. Confiram:

Há algum tempo, li uma entrevista onde vocês falavam das dificuldades para realizar esse filme. Como a vida de vocês mudou depois de um prêmio em Cannes?

Nós gostamos de dizer que a vida do filme mudou. Quando fomos a Cannes não tínhamos um distribuidor na Itália e, se esse prêmio não tivesse vindo, talvez o filme nem estreasse no nosso país. Você sabia que um distribuidor brasileiro comprou o filme logo que chegamos lá? Os italianos só compraram depois que fomos premiados.

Salvo não é uma história de máfia como as outras. Há muito mais solidão do que violência na tela. Os criminosos são todos muito tristes. Na visão de vocês, a máfia siciliana está destinada a ter um fim triste? É uma metáfora?

A máfia siciliana não é mais imbatível como antes, perdeu muito de seu poder e influência. Essas organizações ainda são fortes em alguns lugares do país. Na Sicília, nem tanto. Hoje em dia, até mesmo a máfia anda em crise e nós queríamos mostrar esse ambiente sufocante, com personagens que buscam escapar de um lugar que parece desolado, longe do resto do mundo.

“Queríamos contar nossa história do ponto de vista dos dois protagonistas, já que eles possuem diferentes formas de cegueira: a dela, física; a dele, moral.” (Antonio Piazza) 

O filme parece ter muito da fotografia e da atmosfera do western. Você foram influenciados pelos clássicos do Sergio Leone?

Sim, tem essa referência, ainda que o cenário onde ele foi rodado não precise de muita coisa para se assemelhar ao do western, mas também fomos bastante influenciados pelo noir. Você pode reparar que no começo temos muitos planos fechados, em ambientes pequenos. A câmera se move em espaços confinados. Só depois os espaços se expandem, à medida que os dois protagonistas começam a desenvolver uma relação.

Antes de Salvo, você rodaram um curta sobre uma menina cega chamada Rita. Era já uma espécie de ensaio para Salvo?

Mais ou menos. Ela é cega e tem o mesmo nome, mas é uma história completamente diferente. Na verdade, já estávamos escrevendo o roteiro de Salvo naquela época e esse filme teve muita importância para entendermos melhor a questão da cegueira e de como representá-la em cena.

“Queríamos falar destes relacionamentos que são baseados na morte e na falta de liberdade” (Fabio Grassadonia)

Este foi o primeiro filme da Sara Serraiocco (atriz que interpreta a jovem cega), certo? Como vocês chegaram a ela?

Através de testes. Ela é completamente iniciante, nunca tinha feito nenhum tipo de trabalho como atriz, e nós estávamos buscando exatamente isso. Não queríamos que o espectador visse uma atriz conhecida e pensasse nela como “fazendo papel de cega”. Queríamos um rosto novo para dar mais credibilidade à cegueira da personagem. Sara fez uma preparação muito intensa, conviveu com pessoas cegas, andou vendada pela casa que serviria de locação para o filme, enfim, viveu como eles por meses. Ficamos felizes porque agora a Sara foi selecionada para a Scuola Nazionale di Cinema, em Roma.

Com o sucesso de Salvo, quais são os próximos projetos? Vocês podem adiantar alguma coisa?

Neste momento, nosso foco é continuar trabalhando na divulgação de Salvo. Ano que vem começaremos a pensar em um novo projeto. Temos várias ideias, mas ainda não sabemos a qual delas daremos prosseguimento. O que podemos adiantar é que será algo ambientado na Sicília, porque somos os dois originalmente de lá e achamos importante continuar falando da nossa região. Chegamos a um ponto em que não acreditamos mais em grandes mudanças na sociedade. Aliás, não acreditamos em melhoras, já que a mudança para pior sempre ocorre. Então a mudança deve ser individual, inclusive no filme o que podemos ver é que duas pessoas mudam enquanto todo o resto permanece igual.

Terminada a entrevista, Antonio e Fabio seguiram para a première do filme e ainda participaram de um debate com o público após a sessão.

Olha eu aí clicada pelo Wanderson Awlis enquanto os entrevistava na antesala do Estação Botafogo

Debatendo o filme com o público

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