quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Invocação do Mal


Os filmes de horror representam um dos filões mais lucrativos do cinema, em especial o norte-americano. Talvez porque acabem divertindo até quando são malfeitos e descambam para o “terrir” – algumas vezes intencional, porém outras de modo involuntário. A banalização do sobrenatural na sétima arte vem sendo tão grande que é cada dia mais raro alguém investir numa produção dessas a sério, ou seja, gastando tempo, energia e dinheiro para reunir uma boa história e bons atores sob a batuta de um diretor que entenda do riscado. É essa rara combinação de fatores, associada, ainda, a uma equipe técnica primorosa, que faz com que este Invocação do Mal seja o melhor representante do gênero em muitos anos.

O roteiro é baseado na história de Ed e Lorraine Warren, um casal americano que se dedica a investigar fenômenos paranormais e recria aquele que eles consideram seu caso mais aterrorizante: no início dos anos 70, atendendo ao pedido de uma família que vinha sofrendo perturbações em sua casa no interior de Rhode Island, o casal se depara com uma teia de manifestações demoníacas que infestava o local há mais de um século e já havia feito mal a moradores anteriores, alcançando até mesmo pessoas que nunca estiveram dentro da casa.


Resumida assim, em poucas linhas, parece uma trama de assombração como qualquer outra. Ainda mais se considerarmos que quase todos os filmes de terror partem de conceitos parecidos; mas o que importa em um filme não é do que ele trata e sim como é realizado. E este é um longa bem-sucedido em cada um de seus aspectos, desde a ambientação sóbria com objetos que só ganham contornos negativos no decorrer da história até a sensação de insegurança progressiva que vai tomando conta do espectador. Chega um ponto em que meros suspiros ou um leve bater de palmas podem evocar os mais ancestrais medos. James Wan, que debutou há quase dez anos com Jogos Mortais e vem realizando os exemplares mais criativos do gênero, alcança com este filme sua maturidade como cineasta.

Outro ponto a ser destacado é a diferença de ver um filme de terror com um bom elenco, algo que a maioria dos produtores do gênero parece julgar dispensável. Vera Farmiga, uma das atrizes mais versáteis e completas da atualidade, dá substância à sensitiva que deixa parte de si a cada trabalho; assim como Lili Taylor defende com maestria o papel da mãezona disposta a tudo para defender a prole; com menor intensidade, mas igual competência, Patrick Wilson e Ben Livingstone completam o elenco principal, que ainda conta com o talento das meninas Shanley Caswell, Hayley McFarland, Joey King, Mackenzie Foy e Kyla Deaver. Enfim, não há um só ator no elenco que esteja menos do que adequado.


Com uma trilha sonora perfeita, que realmente ajuda a compor cada cena e induz ao medo em vez de servir de muleta para sustos fáceis, Invocação do Mal é uma daquelas produções à moda antiga, que definitivamente prova que um vão escuro atrás da porta pode ser muito mais apavorante do que uma fratura exposta. James Wan mostra que o sucesso obtido com Jogos Mortais foi somente o primeiro passo para atingir níveis mais refinados de fazer cinema e realiza um filme elegante e de bom gosto que pode, desde já, ser considerado um clássico do gênero. Só é uma pena que o original The Conjuring (O Conjuro – palavra que significa invocação, mas também exorcismo) tenha recebido aqui no Brasil mais um daqueles títulos genéricos. 

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