sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Espírito de 45


O filme marca o retorno do inglês Ken Loach ao gênero documentário. A julgar por esse trabalho, o cineasta faria melhor em continuar no terreno da ficção. O Espírito de 45 se vale de muitas imagens de arquivo e depoimentos de diversas épocas para falar de dois momentos políticos da história recente da Inglaterra: o pós-guerra, quando o país supera a miséria das décadas anteriores e a vitória do partido trabalhista alavanca uma série de mudanças sociais, com foco no fortalecimento das instituições públicas (saúde, assistência social, bens e serviços). Num segundo momento, Loach compara esse período de fartura e bem-estar com as medidas duras tomadas no governo Thatcher, voltadas para enriquecer a economia do país em detrimento do bem-estar de seus cidadãos.

Não é que Ken Loach não esteja falando de um tema válido, mas O Espírito de 45 poderia ser um pouco mais cinema e menos panfletagem. Ter uma posição política clara é uma coisa (e todos já sabemos que o cineasta é de esquerda), mas realizar um filme que não consegue se soltar das amarras da propaganda é outra. E pior, é manipulação feita sem o humor e a criatividade de um Michael Moore. Sem contar que o formato do filme é a coisa mais ultrapassada do mundo. Também a edição deixa a desejar: em diversos momentos, algum entrevistado diz algo interessante, mas continua falando por tanto tempo que fica impossível manter o foco no assunto. Por diversas vezes, a tela escurece e temos a impressão de que o longa acabou; mas, logo a seguir, a imagem volta a clarear e o entrevistado fala mais um pouco, porém sem dizer nada de tão diferente do que já havia sido dito antes.

O mais engraçado é que, ao final da projeção, algumas pessoas resolveram aplaudir o filme. Talvez porque o esteja na moda se mostrar politizado. Didático e com tom de filme institucional, o documentário não deve causar tanto furor assim nem mesmo entre os britânicos.

Mostra Panorama: Grandes Documentaristas


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