quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lovelace


Chega aos cinemas também nesta sexta a cinebiografia de Linda Lovelace, a garota que, na década de 70, sai do anonimato para se tornar a primeira grande estrela da pornografia, ao protagonizar o até hoje comentado Garganta Profunda. Abusada pelo marido, renegada pela família, passada para trás pelos produtores, enfim, explorada de todas as formas, Linda se tornou celebridade e teve seu nome para sempre associado ao sexo e à luxúria, embora este tenha sido seu primeiro filme. Como a própria personagem ressalta em uma cena, foram 17 dias na indústria da pornografia e isso bastou para que ela ficasse marcada para o resto da vida.

O tema poderia render um filme explosivo, ousado e cheio de implicações sobre a falsa moralidade da sociedade americana, mas o roteiro prefere apostar no binômio vitimização e dramalhão, deixando de lado qualquer outro contexto ou nuance. Se considerarmos o grau de revolução causado pelo filme Garganta Profunda nos Estados Unidos em plenos anos 70, a abordagem proposta por Lovelace torna-se ainda mais acanhada e superficial. Conforme já foi exemplificado com mais propriedade há alguns anos no documentário Entrando na Garganta Profunda, o filme foi um fenômeno não somente pela gorda bilheteria, mas, principalmente, por atrair espectadores que não eram os usuais deste tipo de produção. Pela primeira vez, o chamado público médio americano estava indo ao cinema assistir pornografia.  


Com tanto potencial a ser explorado, é estranho perceber que Lovelace vai na contramão de tudo isso: é um filme tão comportado que, no final das contas, acaba semelhante a qualquer outra história sobre opressão feminina – dessas que passam aos baldes na TV. Simplesmente não dá para entender que tenha sido jogado fora justamente o aspecto que poderia criar no filme um diferencial em relação aos demais. E o que dizer da narrativa picotada, que passa em alta velocidade pelos acontecimentos e ignora toda e qualquer polêmica, transformando a vida de Linda em um grande slideshow?

Em meio a tantos equívocos, a interpretação segura e contida de Amanda Seyfried é um dos grandes acertos do filme. A atriz dá bastante dignidade à personagem e consegue contornar várias armadilhas do roteiro, embora seja inevitável reparar a quantidade de bobagens que ela vem fazendo ao longo de sua carreira. Peter Sarsgaard, em um personagem que parece uma versão mais malvada daquele que interpretou em Educação, também faz o que pode para enriquecer seu Chuck, assim como James Franco doa carisma a uma versão jovem de Hugh Hefner. Algumas outras opções permanecem um mistério: por que Sharon Stone está caracterizada de maneira tão bizarra? Qual o sentido de ter alguns atores, como Chloë Sevigny e Wes Bentley, em participações inexpressivas de poucos segundos?


De qualquer modo, é o esforço conjunto do elenco que ainda faz de Lovelace um filme assistível. Os documentaristas Rob Epstein e Jeffrey Friedman, que há alguns anos realizaram o elogiado Uivo (filme sobre o universo de Allen Ginsberg com James Franco na pele do poeta), derraparam dessa vez. 

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