domingo, 29 de setembro de 2013

Mel


Este filme de estreia da atriz Valeria Golino na direção de longas-metragens busca analisar as contradições de uma mulher que escolheu exercer um ofício polêmico: Irene, codinome Mel, é um anjo da morte. Para sua família e as pessoas com quem se relaciona, ela é apenas uma estudante; mas Irene, na verdade, faz parte de um esquema que trafica medicamentos proibidos do México com o objetivo de fornecer morte assistida a pacientes terminais. Irene não o faz somente por dinheiro: ela acredita estar prestando um serviço valioso a pessoas que vivem um sofrimento insuportável e querem morrer com dignidade. Suas convicções são abaladas quando, após fornecer uma solução letal a um cliente, ela descobre que este não tem nenhuma doença e quer morrer somente por estar deprimido.

A eutanásia é um tema espinhoso que já foi abordado recentemente no cinema italiano: no filme A Bela Que Dorme, Marco Bellocchio conseguiu fazer um painel bastante completo do tema. Valeria Golino também levanta várias questões relevantes em Mel, como, por exemplo, o limite ético de ajudar alguém a se matar. A determinada altura, o personagem saudável que enganou Irene para se utilizar dos seus serviços questiona a sua reticência perguntando por que os doentes terminais teriam mais direitos do que ele. A vida, afinal de contas, é um direito ou uma obrigação?

Embora conte com muitas cenas intensas e boas interpretações de Jasmine Trinca e Carlo Cecchi, o filme por vezes parece perder o foco. São inúmeras as cenas que não parecem ter muita explicação ou correlação com a trama, como, por exemplo, os vários closes nos pés de Irene com unhas pintadas de azul. Ou a cena na qual ela pede a uma garota asiática para tirar uma foto com ela. Há alguns enquadramentos e planos que dão a nítida impressão de terem sido feitos para embelezar o filme. Também a aproximação entre Irene e o paciente por vezes parece pouco natural, assim como a súbita falta de firmeza dele em levar adiante seu desejo de morte – ainda mais considerando que o personagem é extremamente decidido sob todos os outros aspectos. Contudo, feitas essas ressalvas, trata-se de uma estreia promissora, um primeiro filme que chama atenção. Mel participou do Festival de Cannes deste ano e recebeu uma menção especial do Júri Ecumênico.

Mostra Expectativa 2013


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