sábado, 28 de setembro de 2013

A Garota de Lugar Nenhum


Já este filme aqui é o esquisito no bom sentido. Trabalhando com uma interessante e ousada mistura de gêneros cinematográficos, o diretor e roteirista Jean-Claude Brisseau (o mesmo de Os Anjos Exterminados, que passou no Festival de 2006) parte de um argumento basicamente noire vai inserindo na trama elementos do cinema expressionista, do terror, do drama e do romance, culminando em um produto final bastante operístico.

Michel é um viúvo de meia-idade solitário que tem sua rotina depressiva alterada quando socorre Dora, uma jovem que havia sido agredida. Contrariando a razão e os conselhos de seu melhor (único?) amigo, Michel a convida para ficar um tempo em sua casa. Dora é um espírito livre, parece uma pessoa sem amarras e, portanto, sem nada a perder. Seu ar misterioso e seus modos diretos trazem um novo ânimo para a vida do professor aposentado e triste.

A Garota de Lugar Nenhum certamente não é um filme para agradar a todos os públicos. A narrativa passeia livremente pelos mais diversos estilos. Numa hora os personagens têm longas conversas filosóficas, mas na cena seguinte são assombrados por criaturas bizarras. Os limites entre o poético e o kitsch nunca foram tão tênues, porém é tudo realizado de modo muito plástico e pautado por um senso estético que nunca deixa as cenas descambarem para o ridículo  por mais surreais que sejam. Especialmente indicado para apreciadores do cinema de David Lynch. O filme venceu o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno 2012. Uma curiosidade: o apartamento que serve de locação para a maior parte da história é a residência do próprio Jean-Claude Brisseau.

Mostra Panorama


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