sexta-feira, 27 de março de 2009

Crepúsculo


“De três coisas eu tinha certeza absoluta: primeiro, Edward era um vampiro. Segundo, havia uma parte dele – e eu não sabia o quão dominante essa parte poderia ser – que desejava o meu sangue. E terceiro, eu estava completamente apaixonada por ele.”

Está chegando às locadoras a tão esperada transposição de Crepúsculo (Twilight, no original), da americana Stephenie Meyer, para as telas. O trecho acima, retirado da contracapa do livro, resume bem o conflito central dos quatro volumes que giram em torno do amor entre a adolescente Bella e o vampiro de bom coração Edward. A chamada Twilight Saga apóia-se numa trama original e simpática que, não obstante alguns pontos fracos, sabe fisgar a atenção do leitor ao longo de mais de duas mil páginas. A legião de fãs se espalhou pelo mundo e o filme já estava em produção antes mesmo do lançamento do último livro, em agosto do ano passado.

Bella Swan é uma adolescente desajeitada que se sente deslocada na cidadezinha para onde acaba de se mudar. Quando o lindo e misterioso Edward Cullen demonstra interesse por ela, Bella mal pode acreditar. Mas o rapaz tem atitudes estranhas e contraditórias: num dia não consegue tirar os olhos dela e, no outro, trata-a como se ela não existisse. O porquê desse conflito o espectador já sabe, e espera pelo momento em que Bella também descobrirá que Edward vive dividido entre sua atração por ela e o medo de machucá-la, já que pertence a um clã de vampiros civilizados e acredita que o único modo de controlar seus instintos naturais é manter uma distância segura dos humanos.

A primeira notícia que ouvi sobre a produção deste filme me deixou apreensiva: a escolha de Catherine Hardwicke para a direção. Hardwicke estreou atrás das câmeras há cinco anos com o pavoroso Aos Treze. Depois realizou o apenas razoável Os Reis de Dogtown. O bom presságio estava no fato dela pelo menos não ter escrito o roteiro desta vez. Adaptar um livro de 500 páginas para um filme de duas horas é sempre complicado, e tudo se torna ainda mais difícil quando é preciso estar atento para não cortar nenhum detalhe que possa fazer falta nos filmes subseqüentes. Podemos dizer que, no todo, a essência deste primeiro volume foi bem preservada. Embora algumas pequenas subtramas tenham sido limadas e alguns personagens que terão importância adiante apareçam muito rápido, a base principal para toda a série foi estabelecida.

Algumas decisões visuais poderão incomodar quem leu o livro, como o tratamento dado à cidade de Forks – descrita como um buraco no fim do mundo –, mas que na tela parece moderninha demais, cheia de adolescentes de aspecto descolado. Assim como a casa de Charlie, excessivamente arrumada para um homem solitário que vive para o trabalho. Mas esses detalhes são diminutos diante da grande bola-fora do filme: a tosquice dos efeitos especiais. A seqüência em que Edward corre pela floresta levando Bella nas costas chega a ser constrangedora de tão fake. Aliás, todas as cenas que tentam mostrar a rapidez e/ou força sobre-humana do personagem não convencem – quase podemos ver os cabos suspendendo o ator, tamanha a falta de naturalidade. A única seqüência em que os efeitos parecem bem aplicados é a que mostra a família jogando beisebol.

Se Crepúsculo fosse um filme de ação, um clássico filme de vampiros, a mediocridade dos já citados “defeitos especiais” prejudicaria o resultado final de forma irreversível. Mas o longa é, antes de tudo, uma história de amor. Meio surreal, mas inquestionavelmente romântica. E, como tal, o filme funciona. Com um pouquinho só de boa vontade é possível se deixar encantar, com a ajuda da trilha bonitinha e, principalmente, da fotografia deslumbrante. Seja nas tomadas na floresta, na bela casa de vidro dos Cullen ou até mesmo num singelo coreto enfeitado com luzes, todas as imagens de Crepúsculo são muito bem cuidadas. Outro destaque são os flashbacks em tom sépia.

Embora não tenham absolutamente nada a ver uma com a outra, comparações entre as franquias Twilight e Harry Potter são recorrentes. Não apenas por serem ambas direcionadas ao público juvenil, mas também por inserirem um mundo mágico numa realidade contemporânea. Robert Pattinson, conhecido justamente como o Cedric Diggory de Harry Potter e o Cálice de Fogo, a princípio parecia uma má escolha para o papel de Edward. Mas não é que Pattinson é o maior acerto do elenco? Além de seu visual ser a materialização exata do Edward do livro, o ator passa de modo convincente a tensão interna de um personagem que está sempre tentando não perder o controle duramente adquirido. E, convenhamos, ele fica lindo com aqueles olhos dourados.

Já Kristen Stewart, apesar da boa química com Pattinson, mantém a mesma fisionomia apática até quando é ameaçada de morte. A atriz já está ficando conhecida tanto por sua beleza como por sua falta de expressão. Pensando a longo prazo, é motivo para se preocupar. Seria bom que a produção providenciasse um bom preparador de elenco para a moça. Dentre os coadjuvantes, sobressaem-se Billy Burke como Charlie Swan e Ashley Greene como Alice Cullen. A performance de Taylor Lautner, intérprete de Jacob Black, pode ser um fator decisivo para a série devido à importância futura de seu personagem. Mas como ele praticamente não aparece neste primeiro longa, só poderemos analisá-lo melhor em New Moon (o segundo filme, que estréia em novembro). New Moon, aliás, ficará a cargo de um novo diretor: Chris Weitz, de A Bússola de Ouro e Um Grande Garoto. Outra expectativa é a confirmação da estrelinha Dakota Fanning no elenco como a vilã Jane. Torçamos para que isso se reflita num salto de qualidade para a série.

4 comentários:

  1. A autora, que fez um livro bastante convincente e, mesmo não sendo referência literária, viciante, viu sua obra se transformar em um filme água com açúcar, com apelo sexual explícito e uma relação bastante superficial entre os protagonistas. No entanto, a contextualização visual e a atmosfera adolescente mostram-se eficientes.

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  2. Acho que a sexualidade forte já existe no livro, só que quando posto na tela realmente a coisa fica mais explícita.

    Vamos aguardar Lua Nova para ver se os filmes deslancham daqui pra frente.

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  3. Eu já tive uma passagem muito rapida como fã de Crepúsculo, mas depois de ler o 2º livro da série (Lua Nova)eu percebi que essa série realmente não vale a pena: a escritora idealiza um romance obsessivo e claustrofóbico como "amor perfeito", e não tem nem competência para mostrar porque a personagem principal (Bella) é tão obcecada por seu vampiro brilhante (sempre que ela o descreve ela só sabe falar de sua pele fria e branca e de seus olhos dourados), sempre que ela vai descrever o tempo que passou com ele no começo de Lua Nova é como "os melhores dias de sua vida", quando ele a abandona ela fica em um estado pior do que poderia ficar se seus pais morressem e ainda adquire um instinto meio suicída só para ter ilusões com a sua voz, sem falar no fato de que ela está disposta a largar família, amigos, tudo só por um romance, entre outras coisas que deixariam esse post muito grande!
    As vezes eu penso bo estrago que essa série faz em algumas adolescentes como aquelas fangirls que aparecem nas comunidades haters para nos xingar.
    A melhor coisa que eu já fiz por Crepúsculo foi deixar de gostar ^_^
    Desculpe o tamanho do post

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  4. Nunca li uma resenha tão serena, inteligente e cuidadosa quanto a sua sobre o filme Crepúsculo.

    Parabéns.

    Eu já li todos os livros de Meyer e, obviamente, já expressei minha análise textual sobre os dois filmes - Crepúsculo e Lua nova no meu blog.
    Os comentários são pavorosos, bem como as interpretações.

    O curioso em sua análise é que você, como eu, reconhece a boa interpretação de Pattinson - ele é condenado sempre por todos...e eu acho que a Kristen Stewart atua como a personagem pede.

    Abraço e parabéns pelo blog!

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