segunda-feira, 23 de março de 2009

Supernatural


Imaginem um mundo onde as crianças devem de fato temer os monstros no fundo do armário. Onde vampiros e lobisomens não fazem parte apenas da mitologia. Onde demônios caminham entre nós e possuem pessoas inocentes, fazendo com que pareçam loucas ou homicidas. E onde todas as lendas urbanas que você alguma vez já ouviu se revelam verdadeiras. É justamente esse o cotidiano dos irmãos Sam e Dean Winchester, protagonistas da série Supernatural.

Cruzando estradas americanas a bordo de um Impala 67 preto cheio de armamentos na mala, enchendo assombrações de tiros de sal e arriscando a vida diariamente, Sam e Dean sabem que o trabalho que fazem nunca terá nenhum tipo de reconhecimento e, ainda assim, continuam a fazê-lo pelo simples fato de pertencerem ao restrito universo dos que sabem que há muito mais entre o céu e a Terra do que vãs filosofias. Com tanto em jogo, os manos são heróis nada convencionais: mentem descaradamente para obter informações, profanam túmulos, usam identidades falsas, fraudam cartões de crédito (afinal de contas, caçador de demônios não é uma profissão remunerada) e são procurados pela polícia em diversos estados; enfim, os caras vivem totalmente à margem da sociedade – o compromisso deles é com a sua própria ética.

Como eles entraram nessa? O episódio-piloto explica: vinte dois anos antes, quando Sam tinha seis meses e Dean, quatro anos, a mãe deles foi morta por um demônio. Desde então, John Winchester, o pai, ficou obcecado em descobrir tudo sobre o mundo sobrenatural. Na busca pelo demônio que destruiu sua família, John se esmerou em caçar espíritos atormentados e toda sorte de criaturas do mal, além de criar os filhos como verdadeiros guerreiros. Até o dia em que Sam, farto daquela vida surreal, resolveu abandonar tudo e ir para a faculdade. Para tanto, precisou enfrentar o pai e romper relações com ele. Dois anos depois, Dean aparece pedindo sua ajuda. John saíra para uma caçada há vários dias e não dera notícias desde então. Comovido com o desespero do irmão, Sam concorda em ajudá-lo a seguir a última pista deixada pelo pai. Mas só. Ele está feliz e não quer voltar a lidar com o sobrenatural. Mas é forçado a mudar de idéia quando sua namorada Jessica é assassinada exatamente da mesma forma que sua mãe. Tudo indica que o demônio tem uma questão pessoal com os Winchester.


Há tempos que as emissoras tentam produzir uma série como essa e não conseguem. Embora tudo que exista dentro do gênero atualmente tenha suas origens na célebre Além da Imaginação, a safra moderna certamente começou graças à popularidade de Buffy – A Caça-Vampiros. Por ser Buffy direcionada demais ao público adolescente, urgia criar algo semelhante para o espectador adulto. Tentativas não faltaram, desde Charmed (que começou bem e depois descambou para o mesmo estilo teen de Buffy) até as chatinhas Medium e Ghost Whisperer, passando pela muito boa e pouco vista Tru Calling. Nenhuma delas chegou a ser um fenômeno de popularidade.

Em Supernatural, a grande sacada vem do fato dos irmãos estarem sempre na estrada, se deslocando, o que evita que se criem “barrigas”, ou seja, episódios onde nada acontece. A cada semana uma nova história de horror é contada, como se fosse um filme independente, mas sempre mantendo em foco também a sequência da história dos Winchester, sua caça ao demônio e a relação familiar. Aliado a isso, a equipe de roteiristas tem à mão todo o arsenal de lendas urbanas americanas, bastando para isso colocar Sam e Dean na estrada em busca de uma nova pista. E a mistura de suspense e road movie torna a série incrivelmente dinâmica e diversificada.

Também chama a atenção o bom humor que pontua as histórias e as inúmeras referências à cultura pop contidas nos diálogos. Um exemplo é quando Dean é alvo de um médium que controla a mente alheia e tenta explicar a Sam porque emprestou seu amado carro a ele: “ele deu uma de Obi-Wan pra cima de mim”. Ou o deboche de Dean quando descobre que o irmão tem visões: “quem é melhor médium: Patricia Arquette, Jennifer Love Hewitt... ou você?”, numa referências às atrizes de Medium e Ghost Whisperer.


Outro ponto fundamental é a química entre os atores Jared Padalecki (Sam) e Jensen Ackles (Dean), que passam com perfeição a dinâmica existente entre dois irmãos que, embora se amem incondicionalmente, têm personalidades bastante diferentes. Sam é mais calmo, sensível e intelectual (o que não quer dizer que ele não saia no braço com vampiros se preciso) enquanto Dean é mais rude, cheio de marra, mulherengo, sem papas na língua. Imaginem essas duas figuras convivendo 24 horas por dia, 7 dias por semana. Provocações, piadas e brigas são constantes. Que sempre terminam em reconciliação, afinal de contas, não apenas eles são irmãos como precisam estar unidos para combater o Mal. Jeffrey Dean Morgan no papel do pai também foi uma ótima escolha. Sua participação na série é esporádica (mais no final da primeira temporada), porém marcante. Dividido entre suas obsessões e os filhos, o ator deixa sempre claro o que é mais importante cada vez que lança seu olhar cheio de amor e orgulho a cada um deles. Vale dizer, ainda, que a série triunfa onde a maioria dos filmes de terror falha, que é na apresentação de personagens tridimensionais e com bom desenvolvimento psicológico.

Supernatural está em sua quarta temporada e passa no Warner Channel todo domingo às 21h. Na TV aberta, o SBT exibe atualmente a segunda temporada também nas noites de domingo depois do “Oito e Meia no Cinema”, que começa às dez e tal (!!!), ou seja, Supernatural começa mesmo depois de meia-noite – o que não deixa de ser apropriado. Mas as três primeiras temporadas já estão todas disponíveis em DVD, então oportunidades não faltam para acompanhar a melhor série do momento. Caiam na estrada com os irmãos Winchester!

2 comentários:

  1. ora q lembrei, ja vi o primeiro episodio!!! =P

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  2. Uma outra característica legal na série é que as coisas vão ficando cada vez mais complexas. Lado a lado com o caso sobrenatural que eles estejam investigando no momento, vamos sabendo mais sobre esse hiato de 22 anos na história e sobre a fatídica noite em que a mãe dos meninos morreu (e o porquê disso ter ocorrido). Enfim, quando você acha tudo muito sinistro... piora mais um pouco, ehehehe.

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