domingo, 29 de março de 2009

Três Vezes Amor


Muitas vezes um trailer, em sua obrigação de tornar o filme mais atraente ou abranger um público maior, dá uma noção totalmente equivocada do produto que está vendendo. Isso nunca foi boa estratégia, porque acaba desagradando os que compram a idéia alterada e afastando o público-alvo correto. Assim é o trailer de Três Vezes Amor, cujo título em português tampouco ajuda a esclarecer sobre o que o filme realmente é. Pelo trailer, imaginamos tratar-se de uma comédia ligeira onde um trintão divorciado, incentivado pela filha, passa a correr atrás das ex-namoradas que o dispensaram. Pouco animador, certo? Acalmem-se, a coisa é melhor do que parece.

Definitely, Maybe (no original) se desenvolve praticamente através de flashbacks. Will Hayes está se divorciando e, numa noite que passa com a filha Maya, de 10 anos, é intimado pela menina a contar como ele e a mãe dela se conheceram e apaixonaram. Will não está a fim de desenterrar recordações mas, diante da insistência da menina, encontra uma solução intermediária: narrar sua vida, desde que chegou em Nova Iorque, há dezesseis anos, para trabalhar na campanha presidencial de Bill Clinton. Nesse período de tempo, Will se apaixonou por três mulheres. Uma delas é a mãe de Maya, mas, como ele se recusa a dizer os nomes verdadeiros, cabe à filha descobri-la através de eventuais pistas. Seria sua mãe a namoradinha de juventude Emily, a parceira de trabalho April ou a ambiciosa jornalista Summer?

Três Vezes Amor é um filme narrado com inesperada sinceridade e que mostra encontros e desencontros que poderiam acontecer a qualquer um, em qualquer lugar do mundo. É claro que o longa não se propõe a ser profundo nem a traçar nenhum painel definitivo sobre as relações humanas. É apenas uma história que conta com graça e simplicidade os caminhos imprevisíveis e confusos que tomamos em nossa vida amorosa. O quanto as pessoas são cegas para determinadas situações que acabam levando-as a resultados indesejados. A estrutura do roteiro também é muito legal e possibilita diversas situações divertidas, já que, ao narrar seu passado para a filha, Will se esquece em certos momentos de que está conversando com uma criança. Um exemplo disso é quando ele inadvertidamente menciona um mènage a trois. No final das contas, ao fazer a filha de analista, Will descobre que a menina pode ajudá-lo a consertar a bagunça que é sua vida.

No papel de Maya, a irretocável Abigail “Pequena Miss Sunshine” Breslin leva o filme nas costas. Claro que o simpático Ryan Reynolds também faz sua parte, mas a proposta talvez não funcionasse tão bem sem a espontaneidade e fofurice de Abigail. A menina transborda tanto carinho e preocupação por aquele pai atrapalhado que leva o espectador a enxergá-lo pelos seus olhos. A trilha sonora do filme é um capítulo à parte, já que é usada para recriar períodos e não apenas ilustrar as cenas. Considerando que a história abrange de 1992 a 2008, é uma grata viagem para os balzaquianos ouvir coisas de R.E.M. ou Nirvana – a letra de Come as You Are, aliás, faz parte da narrativa –, o que cria uma aproximação muito grande com os personagens, a exemplo do que foi feito em Alta Fidelidade.

É realmente uma pena que, aqui no Brasil, toda comédia romântica tenha que obrigatoriamente levar a palavra “amor” no título. E o título Três Vezes Amor acaba depondo contra o bom filme que é justamente por soar como milhões de outras coisas que você já assistiu antes e não gostou muito. Definitivamente, talvez fosse melhor apostar um pouco mais na inteligência do público.

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