sexta-feira, 13 de março de 2009

Meryl Streep, a alma de Mamma Mia!


A filmografia de Meryl Streep abarca mais de 60 filmes. Do alto de seus dois Oscars e quinze indicações (a mais recente foi este ano, por Dúvida), a diva vive atualmente a melhor fase de sua carreira. Claro que Meryl sempre foi talentosa, mas houve uma época em que seu nome não causava muita empolgação. Talvez porque, a despeito de seu incontestável talento, a atriz começava a ficar conhecida por interpretar basicamente heroínas clássicas e/ou sofredoras (A Escolha de Sofia, A Mulher do Tenente Francês, Entre Dois Amores). Mas ela provou que, além de boa atriz, é uma mulher inteligente e começou a diversificar a carreira com comédias (Terapia do Amor, Ela é o Diabo), aventuras (O Rio Selvagem), filmes políticos (Leões e Cordeiros, O Suspeito), além da elegante vilã de O Diabo Veste Prada. Em Mamma Mia!, a loura surpreende mais uma vez ao soltar a voz e executar exuberantes coreografias ao som das canções do grupo sueco ABBA.

O espetáculo teatral que originou este filme, um sucesso absoluto já visto por mais de 30 milhões de espectadores, estreou nos palcos londrinos em 1999. Seguindo a máxima de não mexer em time vencedor, os produtores do longa mantiveram no comando a diretora teatral Phyllida Lloyd e encomendaram o roteiro à teatróloga que escreveu a versão original, Catherine Johnson. A trama se passa na paradisíaca ilha grega onde Donna, uma mulher independente e cheia de energia, comanda uma pousada. Sua filha de 20 anos, Sophie, está prestes a casar e sente-se frustrada porque a mãe se recusa a revelar quem é seu pai. Mas Sophie descobre um antigo diário de Donna e em suas páginas encontra três possíveis candidatos a pai, que resolve convidar para a cerimônia. Sam Carmichael, Bill Anderson e Harry Bright, ansiosos por rever a mulher por quem se apaixonaram no passado, desembarcam na ilha e está estabelecida a confusão.

Se eu tivesse que adjetivar o filme usando apenas uma palavra, acho que esta palavra seria “ensolarado”. E não me refiro aí apenas à onipresente luminosidade do astro-rei e sim a todo um espírito festivo que leva o mais sisudo espectador a cantarolar baixinho os hits que desfilam ao longo desta grande festa que é Mamma Mia! Consideradas cafonas por muitos, adoradas pela comunidade gay e, sobretudo, sinônimo de alegria, as canções do ABBA são mais do que uma mera trilha sonora: elas dão o tom do filme do início ao fim. Assim como o recente Across the Universe se apropriou do psicodelismo das músicas do Beatles para compor o visual do longa, Mamma Mia! exala toda uma estética dos anos 70. As coreografias frenéticas, as roupas esfuziantes, o exagero intencional, enfim, tudo é motivo para transformar o cenário em uma pista de dança e os atores em inesperadas dancing queens.

Meryl Streep é, sem dúvida, a grande atração do filme e conquista o espectador logo no começo ao cantar sua alegria e espanto pela chegada de seus ex-amores no melhor número de todos, não por acaso a música que dá título ao filme. Outro destaque é vê-la interpretando o clássico The Winner Takes It All com pose e dramaticidade de deusa grega. Mesmo deixando evidente que não é uma cantora profissional, a atriz sabe imprimir uma personalidade tão grande à sua performance musical que é impossível reprimir um sorriso ao ouvi-la. Amanda Seyfries, a Sophie, tem uma voz belíssima. Outras (boas) surpresas são o timbre melodioso de Colin Firth e a energia contagiante de Julie Walters. Mas o melhor de Mamma Mia! é que mesmo os atores que não demonstram muita segurança ao cantar, como Pierce Brosnan (coitado, daí a premiá-lo com um Framboesa de Ouro foi exagero), compensam a falta de jeito com outras qualidades – no caso dele, a irreverência e o charme meio cafajeste. E o que dizer da ótima composição do geralmente sério Stellan Skarsgard, talvez o último ator que se esperaria ver num musical?

Deixando de lado a parte da música e dança, o destaque não-musical fica por conta da hilária sequência dentro da igrejinha. A história? É ingênua, pouco crível e serve apenas de plataforma para os números acontecerem. Só que, muitas vezes, o encanto de um musical reside justamente nessa combinação de muita emoção e nenhuma razão.

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