domingo, 8 de março de 2009

Watchmen – O Filme


Acaba de chegar aos cinemas a versão cinematográfica para uma das mais cultuadas graphic novels das últimas décadas, a politicamente incorreta e ultra-violenta Watchmen. Publicada originalmente entre 1986 e 1987 e dividida em doze revistas, Watchmen trouxe para o mundo dos quadrinhos heróis desprovidos de super-poderes e cheios de dúvidas, falhas de caráter e contradições. Eu não li as revistas, então não vou me deter aqui em questões de adaptação ou fidelidade e sim sobre o que é mostrado na telona, sobre o filme em si como um produto independente. E posso dizer que, para quem não traz no coração toda a carga emocional de já ser fã da história em sua forma original, Watchmen – O Filme parece bom, porém de modo algum apaixonante.

O roteiro, dizem os fãs, condensa a trama de forma eficiente. Para uma não-iniciada como eu, tem o mérito de tornar tudo plenamente inteligível. Também tem a ousadia de contar uma história de heróis com poucas cenas de ação e bastante discussão filosófica. O que não impede que o longa tenha cenas inusitadamente violentas e altamente erotizadas. Watchmen é ambientado em 1985, numa realidade americana alternativa em que Nixon está em seu terceiro mandato e os Estados Unidos saíram vitoriosos absolutos do Vietnã. Heróis mascarados que no passado foram os incansáveis vigilantes (watchmen) da população foram proibidos de exercer seu ofício e agora vivem na clandestinidade, vítimas de sua própria arrogância e violência. Daí a famosa frase de protesto “who watch the watchmen?” (quem vigia os vigilantes?). Quando um antigo colega de máscara é assassinado, o paranóico e arredio Rorschach tenta convencer os outros vigilantes de que existe uma conspiração para matar todos eles. Mas quem teria interesse em perseguir heróis aposentados?

Jackie Earle Haley – indicado ao Oscar há dois anos pelo pedófilo de Pecados Íntimos – pode ser considerado a alma do filme. Não apenas porque seu personagem, Rorschach, é o narrador da história mas também pela carga de perigo e adrenalina que o ator injeta em cada cena em que aparece. Considerando a baixa estatura e o biotipo franzino de Jackie, é impressionante o modo como ele soa ameaçador e aterrorizante. Assim como ele, Edward Blake, vulgo o Comediante, dispara faíscas em cada fotograma. O personagem é o herói assassinado na primeira cena e que surge novamente em flashbacks. Espancando cidadãos, tentando estuprar sua colega, dizendo barbaridades, o personagem é defendido com garra pelo também ótimo Jeffrey Dean Morgan (o John Winchester da série Supernatural). E a relevância desses dois personagens é, ao mesmo tempo, o ponto alto e a maior deficiência do filme. Deficiência porque não apenas os outros personagens são menos interessantes como os atores que os interpretam não chegam nem perto do nível de Haley e Morgan. São especialmente insossos Malin Akerman (Espectral) e Matthew Goode (o afetado Ozymandias). Billy Crudup, o Dr Manhattan, até se esforça... mas o personagem é um tédio. Patrick Wilson está apenas OK e vai ser mais lembrado pelas cenas de nudez que protagoniza.

No mais, o filme tem boa trilha sonora, direção de arte caprichada (como não podia deixar de ser) e realmente é bem conduzido por Zack Snyder. O curioso é que apesar do longa condensar uma série extensa em um filme de duas horas e quarenta minutos, ao final tem-se a impressão de que muito do que foi mostrado ali poderia ter sido ainda mais compactado. Algumas cenas parecem esticadas além do necessário, como ocorre na sequência em que Espectral e Manhattan conversam em Marte. Mas será que essa impressão vem do já citado desnivelamento de atores/personagens? Ou é apenas coincidência o fato do ritmo cair sempre nos trechos que não contam com a presença de Rorschach ou do Comediante?

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