segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Maldição da Flor Dourada


Outro filme que está chegando às locadoras neste dia 15 é A Maldição da Flor Dourada, nova incursão de Zhang Yimou às artes marciais espetaculares. O cineasta chinês ficou famoso no começo dos anos 90 por seus filmes engajados, sempre a lançar um olhar crítico sobre a condição subserviente da mulher na tradição cultural de seu país. Yimou dirigiu o tocante Lanternas Vermelhas – que narra as desventuras de uma jovem vendida a um homem rico como sua quarta concubina – e também o singelo Nenhum a Menos, mordaz retrato do sistema educacional chinês. Portanto, ainda é com certa estranheza que se vê o fato de Yimou ter realizado não apenas um, mas três filmes seguidos de artes marciais. Os dois primeiros, Herói e O Clã das Adagas Voadoras, estrearam aqui quase simultaneamente em 2005, embora tenham sido rodados com uma diferença de dois anos (2002 e 2004, respectivamente).

Mesmo os que admiram o cinema oriental costumam fazer a ressalva de que, muitas vezes, o brilhantismo estético mascara roteiros pouco eficazes. Por outro lado, um cinema que tem como base a fluidez costuma causar estranheza nas mentes ocidentais. Não é o caso de Herói, cujo incrível visual está entrelaçado com um roteiro inteligente que tem como questão central a subjetividade da verdade. Já O Clã das Adagas Voadoras parte de uma premissa mais simples, o triângulo amoroso, para contar uma história de paixão, traição e juramentos quebrados. Embora inferior a Herói, ainda assim é um belo filme. Mas aí Yimou fez um terceiro e demonstrou que focar sua carreira em longas épicos e grandiosos foi uma decisão com prazo de validade. A Maldição da Flor Dourada é certamente o mais fraco da produção recente do cineasta.

A história se passa na China imperial. Estamos às vésperas do Festival do Crisântemo, ocasião especial em que o Imperador celebra a união familiar. Mas a família real está longe de ser um modelo. A imperatriz mantém há três anos um romance com seu enteado, o príncipe herdeiro, que, por sua vez, corteja em segredo a filha do médico da Corte. Mas o imperador traído não é nenhum inocente e também ele articula planos de vingança malignos. Toda essa batalha de vontades explodirá em tragédia no dia do festival.

A trama confusa e de ares hamletianos deixa muito a desejar e o visual não chega a ser fascinante a ponto de entorpecer o espectador e fazer com que este ignore a fragilidade dramatúrgica do filme. O visual barroco ainda é belo sim, mas em muitos momentos ultrapassa a linha que separa o luxo da breguice. O filme é um similar inferior do eficiente Inimigos do Império - esse sim uma versão de Hamlet assumida. O que A Maldição da Flor Dourada deixa bem claro é que já está na hora de Zhang Yimou abandonar esse estilo, já que podemos notar uma escala descendente em suas três últimas realizações.

Em tempo: acho que vale explicar que o que eu denominei aqui popularmente como "artes marciais" na verdade é uma tradição oriental chamada Wu-Xia, ou seja, histórias épicas onde os lutadores voam, rodopiam no ar, etc.

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