terça-feira, 6 de maio de 2008

Buda e o Budismo


A história do budismo se confunde com a saga de Siddharta Gautama - o Buda. Nascido por volta de 621 a.C. numa região onde hoje encontra-se o Nepal, era filho único do rei da nação Sakya, Suddodana, e da rainha Maya. Logo que o príncipe nasceu, o rei recebeu a visita de um velho sábio que profetizou que seu filho libertaria a humanidade do sofrimento. Mas o rei desejava que seu herdeiro o sucedesse no trono e, assustado com a profecia, fez com que qualquer vestígio de decadência ou dor fossem sempre mantidos longe de Siddharta. Assim, ele cresceu saudável e feliz, ignorando os males da vida. Passava os dias nos palácios de seu pai e desconhecia tudo o que não estivesse ali inserido. Casou-se aos 16 anos com a bela Yasoddhara, e tinha uma vida perfeita. Apesar disso, algo lhe inquietava, e Siddharta desconhecia o porquê de sua insatisfação. Aos 29 anos, um pequeno incidente desencadeou a descoberta de sua vida: ouviu uma canção linda e triste num idioma que desconhecia. Perguntou à Yasoddhara de que se tratava e esta respondeu que falava de terras distantes. Intrigado, indagou se existiam lugares tão belos como ali. Preocupada com a curiosidade do marido, a princesa disse que fora daqueles muros só havia sofrimento. Mas o príncipe não sabia o que era sofrimento e Yasoddhara logo percebeu seu erro, mas já era tarde. Siddharta decidiu que precisava ver o mundo.

O rei havia previsto esse dia e estava preparado: mandou recolher todos os velhos, doentes e pobres para que o filho saísse num luxuoso cortejo. Assim, Siddharta vislumbrava o mundo maquiado por seu pai e estava quase convencido de que sua angústia não tinha razão de ser, quando avistou na multidão dois monstros - pareciam humanos, mas eram tortos e suas peles, enrugadas. O príncipe interrogou seu criado quanto às causas daquela aberração. Channa sabia que não devia responder, mas não se conteve: “São homens, meu senhor. A idade destrói a memória, a beleza e a força.” Ao saber que aquele era o destino de todos, Siddharta abandona o cortejo e sai pelas ruas vendo tudo que lhe fora vedado por toda sua vida. Miséria, doença e, para culminar, um cortejo fúnebre. Tomado por uma dor até então inédita, o príncipe percebe que não poderá ser feliz enquanto não descobrir uma maneira de quebrar aquele ciclo - nascimento, velhice, morte. Ali mesmo, tira suas jóias e pede a Channa que troque de manto com ele. O príncipe dos Sakyas abandona o palácio e sua família e parte em busca de respostas.

O primeiro passo de Siddharta foi se juntar aos ascetas - sábios que acreditavam que a iluminação era resultado de uma severa mortificação do corpo. Ficavam imóveis, não tomavam banho, comiam insetos e bebiam a água da chuva. Siddharta experimentou tais provações, mas compreendeu que aquele não poderia ser o caminho. Um dia, escutou um professor de violino, que dizia a seu aluno: “Se esticar demais ela arrebenta. Se ficar frouxa, você não consegue tocar.” A referência era à corda do instrumento, mas Siddharta compreendeu que era válido para a vida humana também e daí surgiu uma das bases da filosofia budista, o “Caminho do Meio”, ou seja, do mesmo modo que uma vida de excessos é destrutiva, também a mortificação não leva a nada. “Aprender é mudar”, concluiu.

Após seis anos de busca incansável, Siddharta já havia experimentado de todas as religiões e não se satisfazia com nenhuma. Conta a lenda que foi então que sentou-se sob uma figueira, determinado a só se levantar dali quando obtivesse suas respostas. Mara, o deus dos infernos, sabendo que o príncipe estava vivendo sua última encarnação, fez uma última tentativa de afastá-lo do Nirvana e enviou suas cinco filhas para tentá-lo: eram os demônios do orgulho, avareza, medo, ignorância e desejo. Mas nenhuma das inúmeras formas de sedução que usaram fez sequer com que ele abrisse os olhos. Mara então enviou as forças dos elementos - relâmpagos, tempestades, trovões. O príncipe mantinha-se sereno e refugiado na armadura da meditação. Finalmente, o ardiloso Mara tentou confundi-lo com seu reflexo, representando seu ego. Em vão, pois Siddharta acabara de descobrir as Quatro Nobres Verdades. Foi então que, aos 35 anos, tornou-se Buda (o Desperto).

Buda viveu até os 80 anos, dedicado a disseminar sua doutrina por toda a Ásia. Era uma alma errante e seus únicos bens eram seu manto e uma tigela para receber comida. Hoje, passados 2.500 anos, o budismo está presente em todo o Oriente e a cada dia conquista novos adeptos no Ocidente. Em cada país, desenvolveu-se uma nova vertente: Zen (Japão), Tibetano, Ortodoxo (Tailândia), etc.

As Quatro Nobres Verdades

1- A existência do sofrimento. Perder o que amamos, não alcançar o que desejamos, velhice, doença, morte. Não se sofre como punição por algo e sim, porque é condição natural do ser humano;

2- O homem sofre porque deseja e se apega a esses desejos. Seja por não alcançar o objeto de sua cobiça, seja por possuí-lo e ter medo de perder. Não aceita que as coisas vêm e vão e quer retê-las eternamente;

3- O único modo de libertar-se dessa incessante roda de desejos e frustrações é praticar o desapego. Não há nada de errado em desfrutar das coisas boas da vida, desde que se compreenda que elas são impermanentes;

4- A quarta verdade é a própria filosofia budista, o caminho para transcender as correntes do eterno renascimento, cuja conduta se divide em oito de ações que devem ser feitas de modo correto: percepção, pensamento, fala, comportamento, meio de vida, esforço, atenção e concentração.

A Impermanência

O homem está em constante mutação e, ainda assim, tem a ilusão de um “eu”. Constrói uma imagem de si próprio e se agarra a ela. Não existe um “eu” permanente, pois hoje não somos os mesmos que éramos ontem. Vivemos novas experiências, evoluímos, mudamos de opinião. Mas fazemos um esforço enorme para continuar correspondendo ao modelo que escolhemos para nossa vida. Planejamos obsessivamente o amanhã ou nos agarramos ao passado, quando é o presente que mais importa.

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