quarta-feira, 28 de maio de 2008

O Melhor Amigo da Noiva


Tem dias que a gente quer ir ao cinema para se divertir. Ver um filme legal, com atores simpáticos e boas piadas. E quem sabe até acreditar que o amor muda as pessoas e que todo mundo tem direito a seu happy end. Simples assim, nada demais. Mas não é muito fácil ver uma comédia romântica que cumpra essa premissa básica sem partir para o humor grosseiro ou – o que é pior – idiotizar o espectador. Daí o preconceito de alguns com os chamados “filmes de mulherzinha”, que realmente já viveram épocas melhores. Basta comparar a sinceridade contida em longas como Uma Linda Mulher ou Harry & Sally com... Bom, com as coisas que andam fazendo por aí.

Não é por acaso que o título em português de O Melhor Amigo da Noiva lembra O Casamento do Meu Melhor Amigo: podemos dizer que o protagonista vive uma versão invertida da situação de Julia Roberts. Patrick Dempsey é Tom, um sujeito bem-sucedido e charmoso que troca mais de mulheres do que de cueca. A única presença feminina constante em sua vida é Hannah, sua grande amiga há dez anos. Tom se orgulha de ter o melhor de dois mundos: sexo com todas, companheirismo e amizade com Hannah. Até o dia em que ela viaja a trabalho para a Escócia e Tom, ao se sentir deprimido sem sua companhia, descobre que está apaixonado. Resolve abrir o jogo assim que ela voltar, mas a amiga chega com um escocês a tiracolo. Colin é rico, bonito, educado e a pediu em casamento. Hannah pede a Tom que, sendo seu melhor amigo, faça o papel de “dama de honra” no seu casamento.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer o papel mítico da dama de honra na cultura americana. Num casamento, geralmente o noivo tem seu padrinho (o chamado best man) e a noiva, sua dama de honra. Papéis desempenhados pelo melhor amigo de cada um. Como o melhor amigo de Hannah é Tom – e não uma outra garota – ela pede a ele que seja sua “dama de honra”. Vale dizer a dama de honra é uma figura que praticamente toma todas as decisões nos preparativos de um casamento, além de comandar as outras damas, daí ser uma função tão disputada pelas amigas próximas. Bola fora da legendagem, optou por traduzir maid of honor como “madrinha”.

Interferências culturais à parte, a história acompanha com muita graça as tentativas desajeitadas de Tom para recuperar o tempo perdido. Ele não é exatamente um canalha, apenas um cara que nunca quis compromisso com ninguém. O que é compreensível diante do exemplo de seu pai, que assinou o quinto divórcio e o sexto casamento simultaneamente. Pautado por regras que ele mesmo impôs à sua vida – como nunca sair com a mesma mulher dois dias seguidos –, a atração que Tom sente pela melhor amiga sempre foi sufocada. Foi preciso que sua situação confortável fosse destruída para que ele entendesse que amava Hannah e que desperdiçou anos mantendo-a num nicho separado de afeição.

E agora? Como se declarar a alguém que esteve ao seu lado durante dez anos e agora está encantada por outro homem? Para piorar, Tom não consegue achar em Colin nada que o desabone. Pelo contrário: quanto mais ele remexe, mais perfeito o escocês se apresenta. Tá, tá certo. Ele tem uma família esquisita e um lance bizarro de caçador highlander, mas, ainda assim, como um cara que nunca escondeu o pior de si e sempre se mostrou um imaturo pode concorrer com o senhor perfeição? Esse argumento é a fonte das mais engraçadas situações e o roteiro habilidosamente vai fazendo com que o espectador se solidarize tanto com Tom que até as virtudes de Colin nos irritam, porque dão a impressão de que a luta será inglória.

É uma situação bastante compreensível. Assim como a de Hannah, que sempre gostou de Tom mas prefere não se envolver com ele justamente por conhecê-lo bem e saber que ele não tem condições de dar a ela a relação que ela quer. Com que coragem destruir um casamento de sonhos para apostar em alguém que até então não acreditava no amor?

Amparado por esse bom desenvolvimento psicológico dos personagens, o filme cria inúmeras situações divertidas. Porque O Melhor Amigo da Noiva é um filme muito engraçado sim. A diferença é que seus personagens transmitem verdade, mesmo quando estão vivendo situações pouco verossímeis. O roteiro apenas exagera além do necessário no trecho final, que se passa no castelo dos pais de Colin (sim, o cara, além de tudo, pertence à nobreza). Mas tudo bem. A essa altura, o espectador já foi conquistado e apóia incondicionalmente o ex-galinha.

Para completar, o elenco é todo muito carismático e a mocinha Michelle Monaghan demonstra ótima química com o galã Patrick Dempsey. E um bônus a mais: o longa é o último trabalho do recém-falecido cineasta Sydney Pollack na frente das câmeras. Pollack dá vida ao pai de Tom, o casamenteiro compulsivo. O diretor Paul Weiland, que até então apresenta uma filmografia que tem como maior destaque episódios televisivos de Mr. Bean, pode ter encontrado seu rumo no cinema. Ou não. Isso só seu próximo filme dirá.

2 comentários:

  1. O que provavelmente me conduzirá ao cinema é a presença de Pollack. Adoro esse tipo filme, mas estou cansado de tanta porcaria. Espero que goste assim como você...

    Abs!

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  2. Poxa, pensei que o filme seria uma bomba, mas, pelo visto, enganei-me. Verei!

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