sábado, 31 de maio de 2008

A Ressurreição de Ben Affleck

Ben Affleck é um sujeito curioso. Logo no início do que parecia ser uma promissora carreira, ganhou, em parceria com Matt Damon, o Oscar de melhor roteiro original. O ano era 1998 e o filme era Gênio Indomável, lembram? Até então, Affleck tinha feito alguns trabalhos para a TV e participado de dois longas do também iniciante Kevin Smith. Muita gente não engole até hoje o fato do roteiro daqueles dois garotões ter derrotado Woody Allen e seu Desconstruindo Harry... mas isso já é outra história. O fato é que os dois amigos pisaram no tapete vermelho de Hollywood com o pé direito.

E aí algo saiu errado com a carreira de Affleck. Enquanto seu amigo Damon ficava a cada filme mais conceituado, ele ficava proporcionalmente mais desacreditado. Para mim, isso se deve basicamente a três fatores: a) Matt Damon é melhor ator que Ben Affleck; b) Damon fez escolhas melhores que Affleck; c) Damon nunca se meteu com Jennifer Lopez.

É claro que os fatores "a" e "c" são coisas que fogem ao controle de um indivíduo, mas para o item "b" não há muita desculpa. Vejamos algumas das pérolas nas quais o cara atuou nos últimos dez anos: só Armageddon e Pearl Harbor são filmes que, em conjunto, podem levar uma pessoa ao descrédito. Mas ainda teve Demolidor, um filme tão sem sal que só serviu de trampolim para o filme-solo de sua parceira de cena, Elektra. E tem mais: Sobrevivendo ao Natal, Forças da Natureza, O Pagamento e, principalmente, Contato de Risco (olha a JLo aí de novo!) são filmes que, se não chegam a ser um mico total, tampouco melhoram a filmografia de um ator.

Mais eis que no ano passado Affleck resolve dirigir um filme, a partir de um roteiro escrito por ele. Não dá para levar a sério, principalmente porque ele escala seu irmão mais novo como protagonista. Por sorte, Casey Affleck tem à mesma época uma atuação memorável em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, na pele do tal covarde. Isso chama um pouco de atenção para Medo da Verdade. Quando saem as indicações ao Globo de Ouro e, posteriormente, ao Oscar, lá estão Casey Affleck (por Jesse James) e Amy Ryan por Medo da Verdade. Outra coisa que atiça a curiosidade sobre o longa é o fato de ser uma adaptação de Gone Baby Gone, de Dennis Lehane - o mesmo de Sobre Meninos e Lobos e um dos melhores autores do gênero policial.

E não é que Medo da Verdade é um filme danado de bom? A trama é a seguinte: dois detetives particulares são contratados pelos tios de uma menina desaparecida para ajudar nas investigações junto à polícia. Patrick e Angie estão mais acostumados a encontrar pessoas que desapareceram por vontade própria, mas aceitam o trabalho. A pequena Amanda, de apenas quatro anos, foi retirada de sua casa enquanto a mãe se drogava num bar. Quanto mais investigam, mais convicta a dupla fica de que neste caso nada é o que aparenta ser à primeira vista. Pessoas mentem sem razão aparente, fatos que eles mesmos testemunham não fazem sentido, ninguém parece confiável. Quando percebem que até mesmo seu estável relacionamento está ameaçado, é tarde demais para voltar atrás.


É claro que a qualidade dos romances de Lehane e seu habitual crescendo de acontecimentos contribuem bastante, mas não podemos deixar de reconhecer os méritos de Ben Affleck. Como diretor, ele soube escalar um bom elenco - também formado por Michelle Monaghan, Ed Harris e Morgan Freeman, dentre outros - e conduzir todas as seqüências com perfeição, além de imprimir uma estética noir muito interessante a Medo da Verdade.

Depois dessa inspirada estréia, só podemos esperar que o ator decadente se transforme num diretor competente. Não seria a primeira vez que isso acontece. Boa sorte pra você, Ben. Medo da Verdade está nas locadoras. Vejam e tirem suas próprias conclusões.

3 comentários:

  1. Diria "o nascimento de Ben Affleck", hehehe. Brincadeira, eu adorei Gênio Indomável, e Medo da Verdade deve dar uma luz ao diretor(espero que siga por esse caminho).

    Mais um "Medo da Verdade" e já dá para chamar ele de diretor promissor.

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