quinta-feira, 1 de maio de 2008

As Idas e Vindas de DiCaprio

Leo com Martin Scorsese no set de Os Infiltrados

Leonardo DiCaprio despontou no começo dos anos 90 como grande promessa do cinema mundial. Logo em um de seus primeiros filmes, Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (1993), foi indicado ao Oscar de melhor coadjuvante. O ator tinha 19 anos e roubava a cena como um jovem deficiente mental de 14 que atormentava a vida do irmão mais velho, interpretado por Johnny Depp. Logo a seguir, escandalizou algumas mentes pudicas ao protagonizar um romance homossexual em Eclipse de Uma Paixão (1995). No ano seguinte, exibiu seu talento emergente num Romeu pós-moderno e psicodélico em Romeu + Julieta, papel que lhe valeu o prestigiado Urso de Prata no Festival de Berlim daquele ano. A julgar por esse ótimo começo, parecia que o jovem de cabelos louros e olhar enviesado estava destinado a ser o maior ator de sua geração.

Mas aí veio um tal Titanic (1997) e a carreira do moço quase foi a pique junto com o navio. Para o bem e para o mal, Leonardo virou febre mundial. De repente, seu rosto estampava dez entre dez revistas destinadas a adolescentes. Só se falava nele, um fenômeno de superexposição poucas vezes visto com tamanha intensidade. Daí para se tornar alguém que não era levado muito a sério - efeito que alguns definem como "maldição Titanic" - foi um pulo. Por aqui, a dicapriomania gerou mais uma das polêmicas de Caetano Veloso, que disse que "devoraria Leonardo DiCaprio, mas no sentido antropofágico". Piada ou não, a curiosa declaração ficou eternizada na canção Eu Te Devoro, de Djavan ("Noutro plano, te devoraria tal Caetano a Leonardo DiCaprio...").

Desesperado em salvar a reputação, DiCaprio investiu no independente A Praia (2000), de Danny Boyle. Sem trocadilho, foi mais um tiro na água. O filme – que acabou famoso tão-somente por ter sido rodado no arquipélago de Phuket, aquele devastado pela tsunami – foi péssimo de crítica e público, culminando numa indicação ao Framboesa de Ouro de pior ator. Honraria duvidosa com a qual Leo já havia sido agraciado dois anos antes, ao ser eleito a pior dupla pelos irmãos gêmeos de O Homem da Máscara de Ferro.

Em 2002, quando o todo-poderoso Martin Scorsese selecionou o ator como seu novo astro preferencial, parecia que finalmente sua carreira iria deslanchar. Mas que nada. Sua atuação em Gangues de Nova Iorque foi, no mínimo, burocrática. E a parceria seguia sem gerar frutos: embora tenha abiscoitado um Globo de Ouro e obtido uma indicação ao Oscar por O Aviador, DiCaprio ainda não convencia. Apesar de já ser homem feito, sempre parecia faltar-lhe uma certa maturidade dramática. Também seu aspecto físico contribuía para limitá-lo a papéis juvenis, tanto que sua melhor interpretação depois de adulto foi justamente como o estelionatário adolescente de Prenda-me Se For Capaz.

Mas nada como uma melhor de três. Na terceira parceria entre DiCaprio e Scorsese, Os Infiltrados, algo mudou. Leonardo DiCaprio finalmente virou homem. E não vai aí nenhum questionamento à sexualidade do rapaz e sim ao seu amadurecimento artístico. Na pele de Billy Costigan, irlandês esquentadinho que não pensa duas vezes antes de arrebentar as fuças de quem atravessar seu caminho, DiCaprio dá show. Sedutor, fortão, sarcástico e, principalmente, muito seguro de si. Somente aos 32 anos, o baby face cresceu e apareceu. A promessa que parecia frustrada se concretiza mais de uma década depois.

Certamente 2006 ficará marcado na vida de Leonardo como o ano em que ele recuperou o tempo perdido. Após arrasar em Os Infiltrados, também atuou incrivelmente bem em Diamante de Sangue. No filme – uma mistura de aventura com drama político – Leo é Danny Archer, um contrabandista de diamantes sul-africano que não mede esforços para pôr as mãos num enorme e raro diamante rosa. E o ator parece muito à vontade como um africâner cheio de disposição e malandragem, com direito a sotaque diferenciado e tudo. Leonardo acumulou duas indicações ao Globo de Ouro e acabou derrotado por si mesmo, ao dividir seus votos e abrir caminho para a vitória de Forest Whitaker com sua explosiva interpretação em O Último Rei da Escócia. No Oscar foi indicado por Diamante de Sangue, embora muita gente considerasse seu trabalho em Os Infiltrados superior, e tal divisão de opiniões acabou favorecendo Whitaker de novo.

Depois do destaque excepcional em 2006, o ator se recolheu. Só lá pelo final de 2008 poderemos vê-lo novamente nas telonas, e mais uma vez em dose dupla. Os novos projetos prometem: um é Revolutionary Road, onde retoma a parceria com Kate Winslet e é dirigido por Sam "Beleza Americana" Mendes; o outro é Body of Lies, novo longa de Ridley Scott com roteiro de William Monahan – o mesmo de Os Infiltrados.

Agora resta esperar para conferir se os anos pares realmente trazem sorte para Leonardo DiCaprio.

Um comentário:

  1. Quando publiquei um texto de Os Infiltrados lá no blog, apontei essa mesma fase do ator. E concordo com você, depois de anos ele livrou-se de ser apenas um rostinho bonito. "Prenda-me Se For Capaz" é seu melhor trabalho na minha opinião.
    E espero outro bom trabalho nesses novos projetos que ele está envolvido.

    Abraço!

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