sábado, 3 de maio de 2008

Eu Sou a Lenda



Já se encontra em pré-venda, com previsão de entrega para o dia 15, o DVD de Eu Sou a Lenda. Esta é a terceira adaptação para o cinema do livro de mesmo título de Richard Matheson, considerado um clássico do horror. A história original se passa em 1976 (tendo sido escrita em 1954) e, nela, pessoas infectadas por uma epidemia viram vampiros. O mesmo ocorre no primeiro filme feito a partir dela, Mortos que Matam (1964). Na segunda versão, A Última Esperança da Terra (1971), em vez de uma epidemia as mudanças genéticas são causadas por uma guerra nuclear e os afetados viram "mutantes albinos". A Warner comprou os direitos do livro de Matheson ainda na década de 70, mas o projeto demorou a sair do papel. Nos anos 90, esteve nas mãos de Ridley Scott e seria protagonizado por Arnold Schwarzenegger, mas acabou engavetado por conta de seu orçamento faraônico.

Esta nova versão se passa em 2012, tendo acontecido a contaminação em 2009. Uma vacina desenvolvida como uma revolucionária cura para o câncer revela-se um vírus mutante que infesta Nova Iorque e, de lá, dissemina-se por todo o planeta. Logo os infectados tornam-se predadores das poucas pessoas que não adoecem e, em três anos, a vida está praticamente extinta na Terra. Robert Neville, virologista militar, é imune à moléstia. Um sobrevivente que vaga solitário numa metrópole abandonada e tem como única companhia a cadela Samantha. Robert envia diariamente mensagens de rádio, na esperança de encontrar outras pessoas, e usa o próprio sangue para tentar descobrir um meio de reverter os efeitos do vírus. Embora tenha a Nova Iorque inteira e seus inesgotáveis suprimentos só para si, Robert tem que tomar a precaução de sempre se recolher à sua fortaleza antes do anoitecer, já que a única coisa que mantém os infectados longe dele é a luz do sol.

A proximidade com os dias de hoje e o fato de associar tal desgraça ao que parecia um avanço da medicina foi uma boa sacada do roteirista Akiva Goldsman. Também é uma opção interessante caracterizar as criaturas de um modo meio indefinido. Os vampiros do original viraram pessoas transformadas e violentas, mas não exatamente bebedores de sangue. A aparência delas é uma deformação da aparência dos humanos, mas não chegam a ser monstros.

Eu Sou a Lenda é bom filme, mesmo lembrando em demasia outras produções do gênero. Chama a atenção principalmente pelo fato de não ser mais um filme apoiado na ação desenfreada. O roteiro enfoca bem a solidão do protagonista e as reações e mecanismos de sobrevivência de um homem que se acostumou a não ter ninguém com quem contar. Daí o comportamento metódico e, ao mesmo tempo, livre de quaisquer convenções. Robert é uma espécie de Robinson Crusoé em plena Manhattan. Outro acerto é o cenário, já que a caracterização de Nova Iorque devastada foge do lugar comum dos filmes-catástrofe. O que vemos na tela é uma cidade abandonada e decaída, porém ainda conservando um certo charme. E também acrescida de animais selvagens, como se a Natureza estivesse pegando de volta o espaço que lhe foi tomado.

A interpretação de Will Smith é muito competente. Sua emoção contida, seu olhar de guerreiro cansado e, sobretudo, o modo como se apega à cadela, fazendo dela sua "Wilson" (lembram da bola de Náufrago?) dão credibilidade à trama. Um erro comum em filmes de terror ou ficção científica é considerar que uma boa interpretação é algo secundário, quando, na verdade, é isso que dá dimensão humana à catástrofe mostrada na tela. E eu só posso ficar imensamente grata à Warner pelo filme não ter sido feito nos tempos do Schwarzenegger.

Curiosamente, o filme decai um pouco quando Robert encontra companhia. Em sua parte final, o longa torna-se aquilo que vinha conseguindo evitar até então: um filme de ação como os outros. Com direito a um desfecho previsível e tudo. Que, aliás, não é igual ao do livro. Mas, ainda assim, é uma produção caprichada e que vai por uma abordagem diferente de outras similares. E que bota uma pulga atrás da orelha do espectador: num futuro não muito distante, seremos predadores de nós mesmos? Ou já somos e falta apenas chegar naquele grau de selvageria?

3 comentários:

  1. Gostei muito desse filme. E fiquei muito feliz com a atuação de Will. A cena dele com a cadela no laboratório é de comover qualquer um. Adoro aquela cena em que ele, no alto de dseu desespero, pára o carro e a câmera continua pela longa estrada mostrando seu carro parado lá longe, mostrando toda a dimensão de sua solidão.

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  2. Gostei moderadamente. O final não me desce. Mas, no geral, os aparatos técnicos foram muito bons.

    Abraço!!!

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  3. Pedro,

    Acho que Eu Sou a Lenda tem mais a oferecer do que o aparato técnico. Concordo que o desfecho seja o ponto fraco, mas isso não chega a comprometer o bom filme mostrado até então.

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