sexta-feira, 30 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal



Era um dia como outro qualquer. Eu tinha onze anos e ia ao cinema ver um filme novo de aventura chamado Caçadores da Arca Perdida. Vale lembrar que naquela época não existia DVD, nem mesmo videocassete, o que já revestia a experiência da sala escura de uma importância bem maior. É claro que eu já tinha ido – ou melhor, já tinha sido levada – ao cinema outras vezes, mas naquele dia tudo mudou. Pela primeira vez, um filme me deixou de queixo caído. Não era só uma história divertida nem um herói legal. Tinha mais coisa ali. Era a minha visão, a minha relação com o cinema, que mudava. Eu vi aquelas pedras enormes perseguindo Indiana Jones e me perguntei, assombrada, como aquilo era possível. Eu ouvi o hoje célebre tema musical e senti os pêlos em meu braço se eriçarem. Era empolgante, surpreendente... e mágico. Caçadores da Arca Perdida marcou o início do meu casamento indissolúvel com a sétima arte.

As duas seqüências não demoraram: Indiana Jones e o Templo da Perdição foi feito em 1984 e Indiana Jones e a Última Cruzada, em 1989. Mas foi preciso que longos dezenove anos se passassem para que finalmente chegasse esse tão aguardado quarto filme. Foi com um novo arrepio de antecipação que ontem me reencontrei com esse queridíssimo personagem que durante muito tempo me fez sonhar em ser arqueóloga.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é ambientado em 1957, quando os Estados Unidos vivem o auge da Guerra Fria contra a União Soviética e a histeria anticomunista faz com que qualquer atitude pareça suspeita. A despeito de sempre ter sido leal à sua pátria, o professor Henry Jones Jr. – nome verdadeiro de Indiana – está sendo investigado. O reitor da Universidade onde leciona é pressionado a demiti-lo. Prestes a deixar o país, ele é procurado pelo jovem e rebelde Mutt, que lhe pede ajuda para encontrar o professor Oxley, velho colega de Indy que estaria sendo perseguido por ter encontrado um lendário tesouro arqueológico: a caveira de cristal de Akator, artefato capaz de dar poderes inimagináveis a quem o restituir a seu local de origem. É claro que os soviéticos também estão em busca da caveira, liderados pela bela Irina Spalko, agente com poderes paranormais que fará de tudo para ajudar seus camaradas a dominar o mundo. Além de resgatar Oxley, Indy e Mutt precisam, sobretudo, impedir que a poderosa caveira caia nas mãos erradas.

O filme entrega ao público tudo que os fãs esperam e querem ver mostrado na tela: perseguições emocionantes, enigmas quase indecifráveis, escapadas geniais e absurdas do protagonista – tem uma envolvendo uma explosão nuclear que é, desde já, antológica –, uma vilã exótica e terrivelmente ambiciosa, bichos asquerosos, armadilhas mortais, tudo isso associado ao ingrediente que faz com o público se divirta e aceite sem ressalvas toda aquela insanidade: o toque de humor e a despretensão de se levar a sério. Também não pode faltar uma cena do protagonista sendo confrontado com sua única fobia: cobras. E só o bom humor dessa cena em particular já valeria o ingresso. 

Outra fonte para o tom irreverente tão característico da série está justamente no que poderia ser seu maior problema, caso fosse mal administrado: o fato de Harrison Ford estar bem mais velho. Mas o esperto roteiro transforma até essa desvantagem em ganho, ao assumir a idade madura do ator e usá-la numa série de situações jocosas. Um exemplo é a ótima cena mostrada no trailer em que Indy pula sobre um carro em movimento e, ao errar o alvo, se justifica: “achei que fosse mais perto”. Harrison Ford sempre esteve perfeito nesse papel e continua muito à vontade manejando seu tradicional chicote com a mesma velocidade com que escapa de vilões impiedosos e joga charme para belas mulheres. O elenco ainda conta com o luxo de ter como vilã principal a talentosa Cate Blanchett, numa caracterização incrível com direito a sotaque ucraniano e tudo. Também estão ótimos Shia LaBeouf e Karen Allen – a mocinha do primeiro filme, Marion Ravenwood, retorna cheia de surpresas. Sem contar a participação de John Hurt como o professor Oxley, o intelectual que pirou com as vibrações da caveira de cristal.

O filme é bastante referencial aos anteriores, mas não de uma forma que deixe perdido quem nunca assistiu a eles. Mas é claro que quem se lembra bem da trilogia vai encontrar muitos pontos de contato na história. Até mesmo a “arca perdida” do longa original pode ser vislumbrada numa cena logo no início. E nem adianta dar uma de mal-humorado e implicar com a mistureba geográfica que pôs enormes cataratas e uma cidade maia perdida no meio da Amazônia, porque no reino de Indiana Jones pode tudo. De formigas gigantes a extraterrestres com corpo feito de cristal. Não é todo dia que um filme te deixa elétrico na cadeira durante toda a projeção e com vontade de aplaudir no final, enquanto escuta aqueles tão famosos acordes. E que faz com que duas horas pareçam dois minutos. E que deixa um sorriso infantil no teu rosto muito tempo depois de deixar a sala escura.

Perfeito, da primeira à última cena. Valeu, Spielberg! 

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