domingo, 26 de setembro de 2010

A Ovelha Negra


O filme acompanha os devaneios de um menino nascido nos anos 60, da infância até os dias de hoje. Depois que a mãe enlouqueceu, ele é cuidado pela avó, já que o pai e os irmãos mais velhos não tem tempo para ele. Na escola, é considerado “fraco da cabeça” e passa de ano apenas porque a avó suborna as professoras com ovos frescos de sua granja. Para se proteger dessa realidade, ele vive imerso em seu universo particular, onde fala sozinho, sonha com extraterrestres, considera-se santo e, sobretudo, morre de paixão pela colega de classe Marinella. Quando seus irmãos cometem um crime, o garoto fica agitado e acaba sendo internado no mesmo sanatório onde sua mãe viveu os últimos anos.

Um olhar poético sobre a intolerância da sociedade com as pessoas fora do padrão usual. Nos fabulosos anos 60 – como o protagonista gosta de chamar a década na qual nasceu – a internação era uma solução largamente utilizada para resolver o constrangimento de ter um filho “diferente”. O problema já foi denunciado nos mais diversos filmes, desde Garota, Interrompida até o brasileiro Bicho de Sete Cabeças. O diferencial deste A Ovelha Negra está no estilo, pois toda a trama é concebida pela ótica do protagonista, que, adulto, tornou-se de fato uma pessoa com problemas mentais.

O filme se apóia muito em uma linguagem metafórica e abusa da cronologia fragmentada. Os solilóquios do personagem tem a lógica interna do discurso do louco, com suas obsessões e memórias recorrentes. O único problema é que este formato, ao mesmo tempo em que torna o filme bastante original, também atravanca um pouco a sua fluência, deixando-o excessivamente narrativo. O diretor, roteirista e protagonista Ascanio Celestini, que vem de uma carreira teatral, entrega um trabalho que tem um perfil que certamente caberia melhor nos palcos do que nas telas. Mas, de todo modo, não se pode negar que o longa impressiona. É bastante dolorido – sem ser piegas – e faz com que o espectador se sinta um pouco mal ao partilhar de forma tão íntima da vida daquele homem. É daqueles filmes que você nem gosta muito assim que termina de vê-lo, mas depois, ao refletir melhor, vai se tomando de um inesperado carinho por ele. E também é válido para que conheçamos Celestini, que é um ótimo ator e uma figura dotada de extraordinário carisma.

A Ovelha Negra (La Pecora Nera), de Ascanio Celestini. Itália, 2010. 92 minutos. Mostra Expectativa 2010

Nota: 8,0

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