quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Terça Depois do Natal


Mais um exemplo de que não é preciso inventar muito para se fazer bom cinema. Com um argumento simples e até mesmo prosaico, este longa romeno conquista justamente por trabalhar com competência em cima da simplicidade. Bom roteiro, boas atuações e boa direção de atores, mais ou menos o que mestre Woody Allen vem fazendo há décadas. Na primeira cena, vemos um casal apaixonado na cama. Através dos diálogos, percebemos que ele, Paul, é casado e tem uma filha. A moça a seu lado é Raluca, sua amante há seis meses. O Natal se aproxima, época sempre complicada para os que amam ilicitamente, e uma série de impasses e incidentes pressionam Paul a tomar uma decisão entre continuar com a esposa Adriana ou assumir sua paixão por Raluca.

OK, você já leu um argumento assim milhões de vezes. E provavelmente acha que ele resulta num filme apelativo, cheio de lágrimas e maniqueísmos, mas não é o caso. O mais contundente em Terça Depois do Natal é sua firme determinação em não vilanizar nenhum personagem. Raluca não é uma jovem destruidora de lares, Paul não é um galinha inconsequente e Adriana não é uma megera que empurrou o marido para os braços da amante. E quando se tem personagens tão humanos, o espectador fica sem saber como reagir, porque sabe que não há um “partido” a ser tomado. Nem mesmo para Paul, que, via de regra, seria o único com uma escolha, as coisas se revelam tão simples. Isso fica claro na cena em que ele finalmente toma sua decisão (não, não vou revelar qual) e logo a seguir diz que não está certo de querer aquilo. Econômico em suas situações, verdadeiro em seus diálogos e com um desfecho preciso, Terça Depois do Natal é mais uma boa surpresa vinda da Romênia, país que não tem nos decepcionado na sétima arte. Que venham mais filmes de lá.

Terça Depois do Natal (Marti, Dupa Craciun), de Radu Muntean. Romênia, 2009. 99 minutos. Mostra Expectativa 2010

Nota: 8,5

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