quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Suprema Felicidade - Filme de Abertura do Festival


Filme de abertura do Festival do Rio deste ano, A Suprema Felicidade chega cercado de uma dose extra de expectativa pelo fato de tratar-se do novo filme de Arnaldo Jabor, que não dirige um longa há vinte e quatro anos (o último foi Eu Sei Que Vou Te Amar, em 1986). Em primeiro lugar, é preciso separar a figura de Jabor – cujas opiniões estão longe de agradar muita gente – do filme em si. Claro que esquecer sua imagem é um pouco difícil, considerando que ele está toda noite na televisão, mas quando se consegue fazer essa separação, a recompensa é assistir a um filme bem distante do tom rancoroso normalmente adotado por seu autor.

A trama, inspirada em memórias de infância do cineasta, se inicia em um Rio de Janeiro tomado pela efervescência do pós-guerra, época em que o protagonista Paulinho tem oito anos e assiste com os pais à comemoração do fim da Segunda Guerra. A história, cheia de idas e vindas no tempo, acompanhará Paulo até seus dezoito anos, assim como vários personagens que habitam seu microcosmo: a mãe, a elegante Sofia; o pai, o aviador Marco; o pipoqueiro da rua, Bené, e seus trocadilhos de cunho sexual; Deise, a moça fascinante e desequilibrada da vizinhança; o melhor amigo, Cabeção; a avó extravagante e com ares de diva de cabaré; e Noel, o avô boêmio que é sua verdadeira figura paterna.

Ao longo do filme ocorrem várias transições, ao mesmo tempo em que as imagens traçam um panorama do Rio de Janeiro dos românticos anos 40/50. No caso de Paulo, são mudanças de menino para adulto, envolvendo os costumeiros questionamentos (o típico “não querer ser como os pais”) e as esperadas explosões hormonais. Já seus pais passam por transformações mais doloridas: a mãe, antes alegre e cheia de talentos, se ressente cada vez mais das restrições impostas pelo marido; ele, por sua vez, desconta na mulher as próprias frustrações profissionais e pessoais. Apenas o fanfarrão Bené parece imutável em sua contação de vantagens. E Paulo, entre grandes porres e paixões complicadíssimas, busca sua própria identidade, tendendo a espelhar-se muito mais no libertário avô do que nos entristecidos pais. Afinal, é justamente o avô que parece estar mais próximo da receita de felicidade – ainda que por dez minutos.


Embora retrate um cotidiano tipicamente carioca, percebe-se no filme uma clara influência Felliniana e, em última análise, do cinema italiano em geral. O roteiro não tem medo de carregar nas tintas da afetividade e do lirismo, no que é bem amparado pela direção de arte cuidadosa e pela bonita trilha sonora (que toma algumas liberdades divertidas, como creditar a autoria de Todo Sentimento, de Chico Buarque, ao avô de Paulo). Por outro lado, em sua tentativa de realizar um “Amacord brasileiro” (palavras do próprio Jabor), o cineasta recheia a trama com tantos personagens e situações colaterais que acaba sobrando pouco espaço para desenvolver os principais. Talvez seja um risco assumido, mas por vezes a sensação de dispersão atrapalha. Sem contar as passagens totalmente autônomas da história, que ali estão no intuito de dar um toque de surrealismo – ou melhor, de Fellini – ao filme. Algumas dessas cenas funcionam melhor que outras: a do teatro mambembe com os anões, por exemplo, é ótima; já a da prostituta esfaqueada parece gratuita. Também o excesso de idas e vindas no tempo não tem uma razão de ser clara.

O elenco está bem de um modo geral, com Marco Nanini sobressaindo-se como o carismático Noel, que parece saído de um filme do Hugo Carvana com seu terno branco. Também João Miguel diverte como o pipoqueiro malicioso que fala as maiores sacanagens diante de crianças e mocinhas de família. Destacam-se, ainda, Mariana Lima, Dan Stulbach e Maria Luisa Mendonça. No meio de tanta gente experiente, Jayme Matarazzo mostra que está amadurecendo como ator e Tammy di Calafiori tem boa presença como a stripper juvenil à imagem de Marylin Monroe.

Resumindo, A Suprema Felicidade é um retorno bem-sucedido de Arnaldo Jabor ao cinema. Não é um Amacord (não vamos exagerar), mas é um bom filme.

A Suprema Felicidade (idem), de Arnaldo Jabor. Brasil, 2010. 125 minutos. Mostra Panorama do Cinema Mundial

Nota: 7,0

2 comentários:

  1. Doido pra ver o filme. Talvez vá ao Rio no fim semana a fim de pegar outros filmaços que vão passar.

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  2. "A Suprema Felicidade",acho q o Arnaldo Jabour quis dar uma de Fellini...melhor ele continuar como jornalista...poderia ser melhorzinho se o elenco feminino ajudasse...zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

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