quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Comer, Rezar, Amar


A presença deste filme no Festival pode ser considerada uma pré-estreia luxuosa, já que ele tem apenas uma sessão no evento. Baseado no livro de memórias homônimo (e best-seller do segmento auto-ajuda) de Elizabeth Gilbert, o longa narra os descaminhos de uma jornalista-escritora nova-iorquina em uma jornada em busca de autoconhecimento. Liz tem uma carreira de sucesso, um marido bonito e uma bela casa. O próprio sonho americano, certo? Errado. Ao contrário da cunhada que sempre sonhou com uma família, Liz quer mesmo viajar pelo mundo. Após divorciar-se e ter um breve relacionamento igualmente desastroso, ela decide aproveitar o momento para passar um ano viajando: na Itália, entrega-se aos prazeres da gastronomia e da arte de viver bem; na Índia, busca encontrar-se através da fé em um mosteiro; e em Bali, encontra paz e equilíbrio juntamente com um novo amor.

Embora tenha em sua carreira filmes mais densos (como o perturbador Closer, por exemplo) é inegável que a carreira de Julia Roberts é calcada em produções como essa aqui, ou seja, veículos para sua imagem de diva romântica – posto que já foi de Meg Ryan antes dela. E, dentro desse estilo, alguns filmes são mais bem-resolvidos do que outros. Uma Linda Mulher, Notting Hill e O Casamento do Meu Melhor Amigo estão nesse time, certamente porque souberam rechear a previsibilidade dos romances açucarados com muito charme e doses maciças de bom humor. O que não ocorre com este Comer, Rezar, Amar, um filme irregular e sem ritmo protagonizado por uma personagem pouco empática.

No início da trama, parece uma premissa interessante a questão da mulher que não se encaixa no sonho americano de família, sucesso, hipoteca. Mas esse aspecto da personalidade de Liz é deixado de lado e sua chamada busca por equilíbrio, no final das contas, remete simplesmente a uma busca pelo homem perfeito, que acaba se materializando no personagem de Javier Bardem.

A própria escolha dos países que a personagem pretende visitar soa aleatória e infantil, a começar pelo fato dela principiar a aprender italiano lendo um dicionário (!). Posto isso, o segmento italiano até dá um gás ao filme por conta dos belos cenários e da efervescência que é peculiar ao povo italiano. Já a parte indiana é a mais arrastada e a que menos acrescenta à história, criando uma imensa barriga no miolo do longa. O desfecho em Bali seguiria pelo mesmo caminho modorrento não fosse a presença sempre carismática de Javier Bardem. Apesar de seu personagem também ser desinteressante, Bardem é um ator tão talentoso e um homem tão incrivelmente charmoso que acaba salvando o filme do desastre. Mas por pouco, bem pouco, já que diante da pieguice extrema do desfecho nem mesmo um excelente ator como ele consegue operar milagres.

Comer, Rezar, Amar (Eat Pray Love) de Ryan Murphy. EUA, 2010. 133 minutos. Mostra Panorama do Cinema Mundial.

Nota: 4,0

4 comentários:

  1. beibe, leia o livro antes de julgá-lo. trata-se de uma biografia interessantissima, recheada de referências bacanas e inteligentes. rotular a obra como "auto-ajuda" simplesmente por ser um best-seller é de uma ignorância tacanha.

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  2. Valentina,

    Em primeiro lugar, eu não estou "rotulando" o livro como nada, apenas mencionando que ele é um best-seller que se encontra nas prateleiras de auto-ajuda de diversas livrarias. É você quem está enxergando algo de pejorativo nisso. Em segundo lugar, parece que você está misturando os comentários sobre o filme (que é o objeto de análise do post) com críticas ao livro, que é uma obra independente. E mesmo que eu estivesse falando sobre o livro, ter uma opinião diversa da sua não transforma ninguém em ignorante.

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  3. Que grossa essa Valentina...

    Nem tenho muito interesse pelo livro e menos ainda por sua adaptação cinematográfica. Julia Roberts perdeu o gás...

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  4. Pois é, Alex, quando eu digo que ela assumiu o lugar da Meg Ryan prevejo que o futuro também será igual, rsrsrs

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