quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Complexo: Universo Paralelo

Em 2007, dois irmãos portugueses decidem fazer um documentário no Complexo do Alemão, o maior conglomerado de favelas do Rio de Janeiro. Experimentando vivenciar a realidade dos moradores, os documentaristas buscam fazer um retrato da realidade desses habitantes à margem do poder público. Para exemplificar esse universo, escolhem alguns personagens-chave, como a evangélica Célia, mãe de oito filhos; o funkeiro MC Playboy; e Seu Zé, presidente da associação de moradores há mais de trinta anos.

O típico filme construído sob um olhar gringo, que apresenta fatos que qualquer brasileiro já está careca de saber como se fossem todos grandes novidades. Nada que já não tenhamos visto antes em alguma matéria jornalística ou programa televisivo, sempre repetindo a ótica de que quem realmente protege a população das comunidades carentes é o chamado poder paralelo e de que o Estado, com seu descaso, empurra o jovem carente em direção à criminalidade. O filme não apresenta nenhuma ótica diferenciada, apenas chove no molhado sobre tudo que já foi mostrado e dito em muitos outros filmes sobre a vida em comunidades.

O filme ainda aposta na dicotomia entre a realidade crua e a poesia nascida no caos, através de algumas tomadas interessantes do ponto de vista estético. Mas, infelizmente, este diferencial acaba sendo também um entrave na fluência narrativa, já que as tomadas longas e bonitas (como o jogo de futebol ao pôr-do-sol) acabam soando apenas decorativas. Por outro lado, a fotografia é escura demais em várias sequências, prejudicando o entendimento de diversas passagens. É compreensível que em um documentário com essa temática as condições de iluminação não sejam perfeitas, mas quando o espectador não consegue ao menos identificar o que está em quadro, tal detalhe técnico torna-se um problema grave.

Para completar, os diretores talvez não tenham feito as melhores escolhas em termos de entrevistados, já que a maioria pouco acrescenta ao filme ou ao debate social proposto. Resumindo, Complexo: Universo Paralelo talvez até suscite algum interesse para platéias do exterior, mas para os brasileiros – em especial para os cariocas – é apenas mais do mesmo.

Complexo: Universo Paralelo (idem), de Mário Patrocínio. Portugal, 2010. 75 minutos. Mostra O Brasil do Outro.

Nota: 3,0

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