segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Woman, a Gun and a Noodle Shop


Eu não sabia bem o que esperar dessa refilmagem chinesa de Gosto de Sangue, o primeiro longa dos irmãos Coen. Melhor, tinha uma vaga e equivocada idéia, com base nos filmes mais recentes de Zhang Yimou, como Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Maldição da Flor Dourada. Ou seja, um filme sério, com muitas lutas e um visual imponente. Tudo isso tornou ainda maior minha surpresa diante desta maravilhosa comédia tresloucada.

Wang é o dono da lojinha de macarrão do título e vive no seu pequeno feudo com a mulher que comprou há dez anos (considerando sua aparência jovem, façam as contas) e seus funcionários. Insensível e tirano, Wang maltrata a mulher e passa meses sem pagar os empregados, embora tenha fortunas em seu cofre. A mulher inicia um caso com Li, um dos cozinheiros, e compra uma arma de um mascate. Ao mesmo tempo, Wang, ciente da traição, paga um policial para assassinar os dois e sumir com os corpos. Mas cada um dos envolvidos tem seu próprio plano e todos querem encontrar um modo de pôr as mãos no dinheiro.

Em primeiro lugar, não se trata bem de um remake de Gosto de Sangue. O filme é mais uma paródia ao universo dos manos Coen, com seus personagens bizarros e planos infalíveis que dão completamente errado, mas no geral tem um tom muito mais próximo de outros filmes deles, como Queime Depois de Ler. No lugar do caipira do meio-oeste americano, habitantes de uma província desértica na China imperial (o período não fica bem definido, mas o fato do revólver ser uma novidade joga a trama para o século XIX). Também sobram várias referências ao western americano, ao film noir e ao cinema como um todo, em um festival de esculhambação sem fim. E tudo isso sem deixar de lado as características visuais do cinema de Zhang Yimou, como a fotografia de cores fortes e a direção de arte caprichada. Tem uma cena dos empregados preparando macarrão como se fossem ninjas que, inclusive, soa como uma autoparódia a seus filmes mais sérios. O ritmo do longa é crescente, tornando a trama cada vez mais ágil, surreal e engraçada. Sobretudo, é um filme que não tem medo do ridículo e, com isso, alcança o patamar da genialidade.

Infelizmente, minha recomendação chega tarde, já que A Woman, a Gun and a Noodle Shop teve sessões apenas no primeiro final de semana do Festival. Mas fiquem de olhos bem abertos para a repescagem, porque a fita é imperdível.

A Woman, a Gun and a Noodle Shop (San Qiang Pai An Jing Qi), de Zhang Yimou. Hong Kong / China, 2010. 95minutos. Mostra Panorama do Cinema Mundial

Nota: 10

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