domingo, 20 de abril de 2008

A Maldição de Seinfeld


Até hoje muita gente tenta explicar o sucesso estrondoso de Seinfeld. Exibida originalmente entre 1989 e 1998, a série foi a grande responsável pela popularização das sitcoms no Brasil. Criada por Larry David e Jerry Seinfeld - que interpretava a si próprio - e ironicamente descrita como uma "série sobre nada", Seinfeld conquistou pela empatia que o espectador sente de imediato por seus quatro personagens absolutamente comuns em situações cotidianas. Jerry, George, Elaine e Kramer não têm nada de nobre ou especial: colocam seus próprios interesses em primeiro lugar, tropeçam na vida amorosa a três por quatro e costumam se comportar da pior maneira possível quando acham que ninguém está olhando. De repente, situações prosaicas como perder o carro no estacionamento, ter um encontro amoroso frustrante ou cometer uma gafe imperdoável ganham as telas. É impossível para o espectador assistir a Seinfeld sem que isso remeta a alguma situação vivida por ele próprio.

Durante sua última temporada, o seriado bateu o recorde de audiência da televisão americana. O divertidíssimo episódio final, quando os amigos são presos e têm como testemunhas de acusação todas as pessoas das quais eles tiraram sarro ao longo dos 173 episódios anteriores, foi visto por aproximadamente 30 milhões de telespectadores, o equivalente a 32% da audiência. Não é de se estranhar que, quando a série acabou, as emissoras tenham ficado desesperadas para encontrar algo que preenchesse esse vazio. Friends até chegou perto, mas não era a mesma coisa. Os seis amigos pareciam, digamos, certinhos demais para substituir a anarquia estabelecida por Jerry e Cia.

Mas o sucesso obtido com Seinfeld não pareceu gerar frutos para seu elenco. A começar pelo próprio Jerry Seinfeld, cujo realização mais significativa desde então foi escrever e dublar Bee Movie – A História de uma Abelha. Michael Richards, o Kramer, conseguiu espaço na mídia tão-somente por ter insultado dois rapazes negros na platéia de seu show de stand-up comedy. Cogitou-se que tal reação teria sido uma desesperada estratégia de marketing na linha "falem mal, mas falem de mim". Jason Alexander, o George Costanza - alter ego confesso de Larry David -, além de alguns papéis de pouca expressão em comédias como O Amor é Cego (2001), capitalizou o sucesso obtido em Seinfeld participando de outros seriados, como Friends e Monk. Também emprestou sua voz ao falso documentário Farce of the Penguins, uma gozação com o premiado A Marcha dos Pinguins.

Julia Louis-Dreyfus, a Elaine, tem conseguido vencer as adversidades. Após estrelar em 2002 a pouco vista Watching Ellie, Julia voltou com tudo em 2006 na divertidíssima The New Adventures of Old Christine. Criada por um dos roteiristas da bem-sucedida Will & Grace, a série enfoca as agruras de Christine Campbell, uma mulher divorciada e mãe atrapalhada que vira a "old" Christine quando seu ex-marido arruma uma simpática namorada com o mesmo nome que ela. Na verdade, o enredo da série não é o que há de mais atraente. O que vale mesmo é ver Julia em cena e relembrar aqueles mesmos trejeitos engaçados que são seu maior charme. A série começou meio desacreditada: tinha um nome comprido que parecia destinado a ser sua única piada e um elenco no qual apenas Julia era conhecida. Mas o programa ganhou novo fôlego quando Julia abiscoitou o Emmy 2006 - o segundo de sua carreira, mas o primeiro como protagonista - de melhor atriz. Uma vez quebrada a chamada "maldição de Seinfeld", tudo indica que a antiga Julia ainda tenha muitas novas aventuras pela frente. Depois de sobreviver à greve dos roteiristas, a terceira temporada de The New Adventures of Old Christine deve chegar aqui no Brasil, via Warner Channel, em maio.

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