quarta-feira, 2 de abril de 2008

Tropa de Elite, o Original


Depois de ser um tremendo sucesso nos camelôs meses antes de sua estréia nos cinemas e botar a maior lenha na fogueira do debate sobre a pirataria, Tropa de Elite finalmente está disponível em DVD. Original, é claro. Agora o cinéfilo pode levar para casa o filme mais polêmico do ano passado sem crises de consciência.

A cena de abertura já evidencia que estamos diante de um filme poderoso: o espectador é jogado dentro de um animado baile funk no morro, mas só até a câmera se distanciar e focar num grupo de PM’s que, na maior intimidade com os meliantes, adentra na favela. Em off, a voz rouca de Wagner Moura explica com fina ironia como funciona a convivência entre os poderes paralelos e oficiais nesta cidade maravilhosa. A cena, que parecia introdutória, é quebrada por seqüências de extremo impacto que não entendemos naquele momento. Mas entenderemos no decorrer do filme; aliás, entenderemos muito mais do que gostaríamos.

Com poucos minutos de projeção, ainda no prólogo descrito acima, Tropa de Elite já diz ao que veio. E quando o título do filme - acompanhado da sinistra marca do BOPE - salta na tela, o espectador já está conquistado. É impossível desgrudar os olhos da tela um segundo sequer.

Tropa de Elite foi concebido originalmente como um documentário. Em 2002, quando José Padilha finalizava Ônibus 174, percebeu que havia ali um rico material a ser explorado. Ao contrário do que se pensava a princípio, Padilha afirma que seu filme não é uma adaptação do livro "Elite da Tropa", que o ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Rodrigo Pimentel escreveu em parceria com o sociólogo Luis Eduardo Soares. Mas é óbvio que o relatado ali está longe de ser ficcional. Pimentel, aliás, colaborou no roteiro.

O longa gira basicamente em torno de três personagens: um capitão do BOPE que está cansado daquela vida mas, para deixar o posto, precisa de um substituto; e dois aspirantes a oficiais da PM que tentam, ainda que por meios tortuosos, manter algum nível de honestidade. Em algum momento, a vida desses personagens se cruzará.

O roteiro de Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha é exemplar. Vibrante, cheio de impacto e salpicado por um humor corrosivo. E engana-se quem pensa que apenas a polícia está na mira da metralhadora giratória das críticas. Nenhum segmento da sociedade é poupado, incluindo aí universitários politizados e líderes comunitários. O que Tropa de Elite deixa bem claro é que a polícia é um antro de corrupção e violência sim, mas que ninguém tem muita moral para atirar pedras. Afinal é conveniente para a sociedade como um todo ter quem faça o "serviço sujo". O excelente roteiro é valorizado pela edição precisa do fera Daniel Rezende, que faz com que o espectador se sinta dentro das situações mostradas.

Também não se pode deixar de ressaltar o excelente elenco. Wagner Moura dispensa apresentações. Wagner Moura é o cara. Sua atuação vai muito além dos bordões famosos de seu personagem, como "pede pra sair" e "você é um fanfarrão". Outros grandes destaques são o sempre eficiente Caio Junqueira e o estreante André Ramiro como os policiais ainda não corrompidos. Detalhe: André Ramiro trabalhava como bilheteiro em um cinema e saiu direto da portaria para dentro das telas. Também é interessante o trabalho de Milhem Cortaz, que constrói seu personagem de modo bastante dúbio: um policial corrupto, mas gente boa. Regendo tantos talentos individuais, está o maestro José Padilha em seu segundo filme – o primeiro de "ficção".

Mas o melhor de tudo é que Tropa de Elite é um filme redondo. Não há uma cena sequer que seja dispensável. Quando o assisti pela primeira vez (numa sessão para a imprensa durante o último Festival do Rio), cheguei a temer por uma eventual decadência da narrativa no desfecho. Afinal, quanto melhor o filme maior a dificuldade em encerrá-lo de modo satisfatório. E eis que o milagre aconteceu: uma cena excelente, conclusiva... e o filme acaba! Sem explicações adicionais e desnecessárias. No ponto exato. Se tivesse que descrever Tropa de Elite em apenas uma palavra, a palavra seria: perfeito.

6 comentários:

  1. Já tenho meu dvd de Tropa.

    Torci muito por Tropa em Berlim, apesar de ter achado meio forçada a vitória em cima do magnífico Sangue Negro.
    Adorei o desfecho também.
    O filme não tenta ser moralista em momento algum, o que também me agradou bastante, fora a atuação do competentíssimo elenco.

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  2. Muito bem lembrado, Pedro. Até mancada minha ter esquecido de mencionar a vitória em Berlim.

    Quanto ao Sangue Negro... Até reconheço suas qualidades, mas é um filme que não me agrada muito. Não me apedreje mentalmente, eheheh.

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  3. Tropa é maravilhoso! Apesar de ter caído no populacho da pior maneira possível graças a pirataria (onde este que vos escreve assume na cara de pau que foi mais um dos milhões que contribuiu para o fato) e por seus já considerados "clássicos" bordões, onde é possível encontrar várias comunidades no orkut com o nome deles, o filme é formidável do início ao fim e em momento algum perde o encanto (se é que esse é o termo correto) que fascina e choca o espectador que certamente se impressiona com tamanho e intensidade dos fatos mostrados no filme.

    Não existe moralismo ali, e em alguns momentos, pode-se dizer que pegaram até leve (como na questão do tráfico nas universidades), mas tudo dentro de um contexto cinematográfico muito bem dosado.

    Confesso que inicialmente fiquei meio viciado (como a maioria das pessoas) qdo comprei o piratão. Depois fui prestigiar na telona e recentemente adquiri o dvd, onde fica o meu protesto na parte de extras, que vem com entrevistas porcas de menos de 5 minutos com alguns dos atores, o trailer e uma galeria de fotos que contem apenas UMA foto. Vergonhoso, merecia mais!

    Resumindo: Tropa foi o filme do ano em 2007 e uma produção que marcou o cinema brasileiro por sua originalidade na abordagem de um tema "batido" e frequente na realidade do cidadão brasileiro e já exposto de diversas formas na telona. Aplausos a todos, em especial para Wagner Moura!

    Yuri Calandrino

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  4. Erika, pense em Sangue Negro como se fosse vinho, fica bom com o tempo.

    Abraço!!!

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  5. Eu comprei o DVD, além de querer redimir-me de o ter visto em DVD pirata, queria muito o DVD original na minha coleção. É claro que no telão é que é bom. Sim, eu vi no telão também, duas vezes.

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  6. É... agora é hora de jogar o pirata fora e comprar o original de vez :P

    Bem vinda à "nova casa" Erika!

    Bjs

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