segunda-feira, 28 de abril de 2008

Todas as Faces de Thelmo Fernandes

Quem freqüenta teatro no Rio, mesmo que não seja muito assíduo, já teve oportunidade de ver Thelmo Fernandes no palco. Com 41 anos de idade e 17 de carreira, o ator tem mais de 50 peças em seu extenso currículo, que inclui tipos tão variados como o divertido João Grilo de O Auto da Compadecida, o travesti Geni de A Ópera do Malandro e, atualmente, o truculento Creonte de Gota D’Água. Em 1986, Thelmo ingressou na faculdade de informática da UFRJ. Também entrou para um grupo de teatro amador e descobriu que levava jeito para representar. Já em um de seus primeiros trabalhos, Ah, Se Eu Fosse Rei, ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Teatro de São Matheus (ES) e o prêmio de ator-revelação no Festival de Teatro do Liceu do Rio. Seguiu com a faculdade, embora admita, entre risos, que tenha "começado a tirar notas péssimas". A profissionalização como ator ocorreu em 1991, através do curso da Escola de Teatro Martins Pena. Em 1995, conheceu Tanah Corrêa, que trabalhava com Antônio Abujamra na companhia Os Fodidos Privilegiados e o convidou para fazer parte da irreverente trupe, fundada quatro anos antes:

- "Foi aí que eu entrei na companhia e comecei a trabalhar com aquela pessoa louca e genial que era o Abujamra. (...) Ele dava material para as pessoas, elas dirigiam uma cena e, quando ele achava legal, incorporava ao espetáculo. Aí o João Fonseca fez uma cena do romance O Casamento, de Nelson Rodrigues, e mostrou para o Abujamra. Ele disse que estava tão legal que a gente podia fazer um espetáculo."

O Casamento foi aceito no Festival de Teatro de Curitiba, onde foi um grande sucesso, e ganhou os prêmios Shell de direção e figurino. Depois vieram O Auto da Compadecida, A Resistível Ascensão de Arturo Ui e Tudo no Timing, que ficou anos em cartaz e lhe deu uma indicação ao Prêmio IBEU de melhor ator. Mas estar há doze anos na companhia – hoje dirigida por João Fonseca – não impede que Thelmo trabalhe com outros diretores. Em 2001, retornou ao universo rodrigueano dirigido por Marcus Alvisi em O Beijo no Asfalto. Em 2003, quis o destino que o ator tivesse a oportunidade de conquistar um dos grandes papéis da festejada montagem de A Ópera do Malandro:

- "Eles me chamaram para fazer um dos malandros, o Philip Morris. Eu comecei a ensaiar, mas aí pintou um convite para fazer uma peça com o Luís Fernando Guimarães, e era uma proposta muito boa. Como a gente só tinha ensaiado uma semana, eu conversei com o Charles (Charles Möeller, um dos diretores) e ele entendeu que era uma oportunidade muito bacana. Só que já tinha um esquema de prováveis substitutos e tinham me escalado para a Geni. Mas eu não tinha ensaiado, nem lido o texto. Aí eu fui, mas a peça do Luís Fernando atrasou e na terça-feira da semana da estréia da Ópera me ligaram, dizendo que o Sandro Christopher teve um problema de saúde e que precisariam de mim para estrear como a Geni dentro de dois dias. Aí eu fiquei mudo! Depois falei tá bom, mas falei porque não dava para dispensar uma oportunidade dessas."

O pânico inicial deu lugar a uma performance tão segura que, restabelecido o titular do papel, foram mantidos os dois atores em dias alternados. Thelmo também participou das duas turnês portuguesas da peça (2005 e 2006). Outros destaques em sua carreira foram O Que Diz Molero e Édipo Unplugged – onde fez o papel do próprio. A coroação dessa trajetória impressionante veio ano passado, com a merecida indicação ao Prêmio Shell de melhor ator por sua performance arrebatadora como o Creonte do musical Gota D’Água. Dirigido por João Fonseca e de volta a um musical de Chico Buarque, dois fatores significativos em sua carreira:

- "Quanto ao processo do Creonte, foi muito especial. Foi um claro amadurecimento na minha relação de trabalho junto ao João Fonseca, o diretor. Nós trabalhamos juntos desde 1996 e desta vez foi um processo absolutamente objetivo e sem ansiedade. Creio que foi por isso que consegui chegar a este resultado do qual me orgulho muito."


Depois de lotar o Teatro Glória por vários meses, a peça reestreou no Carlos Gomes no princípio deste mês. Mas não é só. Thelmo já tem um novo desafio, dessa vez na direção:

- "Estou dirigindo um infantil chamado Um Amor de Espantalho, texto de Elbe de Holanda, junto ao GATIG (Grupo de Artes e Teatro da Ilha do Governador), grupo no qual eu comecei como amador. Recebi um convite deles após terem sido contemplados pelo FATE (Fundo de Apoio ao Teatro). Fiquei muito orgulhoso e feliz e com muito friozinho na barriga, mas está sendo ótimo. Estamos estreando dia 7 de junho na Casa de Cultura Elbe de Holanda na Ilha e em agosto estaremos no Planetário."

Quem não conferiu, ainda está em tempo. Gota D’Água (espetáculo já analisado aqui em 3 de abril) fica em cartaz no Teatro Carlos Gomes até 25 de maio. Quintas e domingos, às 19h; sextas e sábados às 20h.

4 comentários:

  1. Muito boa a entrevista! Fiquei curioso com o trabalho do ator.
    Creio que vou ao Elbe Holanda.
    Parabéns!

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  2. Érika, em primeiro lugar gostaria de agradecer pelos ótimos textos sobre a arte, como um todo, que tenho a oportunidade de ler em seu Blog.
    Em segundo lugar, entendo que seja merecedora de todos os predicados que são dirigidos à sua pessoa, pois quem tem, e teve, a oportunidade de trabalhar com alguém como você,entende o que digo.
    Fico muito feliz por mais uma demonstração de coragem e garra, que são marcas suas.
    Parabéns pelo ótimo texto e por suas pesquisas.
    Fábio Ramos.

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  3. Muito legal. O Thelmo é um grande ator e uma figuraça!

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  4. PARABÉNS, MEU DIRETOR DURÃO, PELA ENTREVISTA!
    E, REALMENTE GOTA D'ÁGUA É UM GRANDE TRABALHO.
    TOMARA QUE NÓS CONSIGAMOS, PELO MENOS, CHEGAR AO MÍNIMO DO QUE ESPERA DE NÓS!

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