sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Alì Tem Olhos Azuis


Nos últimos anos, o cinema italiano tem se debruçado bastante sobre a questão do imigrante. O grande diferencial deste filme é que ele se volta não para os dramas de clandestinos e ilegais, mas para uma questão mais complexa e difusa: como se encaixa no país o jovem nascido na Itália, mas criado em uma família com herança cultural diversa? O que é mais importante para ele: a harmonia familiar ou a integração social?

O protagonista é Nader, adolescente de origem egípcia que questiona suas raízes o tempo todo, principalmente pelo fato dos pais não aceitarem que ele namore uma garota italiana. Nader não se sente estrangeiro e acredita ter dentro de si somente os valores do país onde vive, a ponto de se irritar com os imigrantes que insistem em continuar se comunicando em seus idiomas de origem.

O jovem diretor Claudio Giovannesi (leiam abaixo a entrevista com ele) é muito hábil ao delinear o personagem: à primeira vista ele parece totalmente à vontade no ambiente onde vive, mas aos poucos deixa entrever que possui mais valores muçulmanos do que gosta de admitir. Um exemplo disso é a contradição entre ele fazer de tudo para levar a namorada para a cama, mas perder a cabeça com o melhor amigo quando este demonstra interesse em sua irmã.

Um dos motivos do filme parecer tão realista e cheio de vitalidade certamente vem do ótimo trabalho desenvolvido por Giovannesi com os três jovens que interpretam os personagens centrais: Nader, sua namorada Brigitte e seu melhor amigo Stefano são interpretados por não-atores (que, inclusive, têm os mesmo nomes) que trouxeram suas opiniões e experiências para os personagens.

O filme é um interessante retrato não somente do jovem de origem estrangeira, mas de toda uma geração pautada por valores duvidosos e amizades que não sobrevivem aos desentendimentos, enfim, de uma sociedade onde nada tem grande durabilidade. Uma geração que muda a cor dos olhos e acredita estar reescrevendo a própria biografia. 

Mostra Expectativa


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