sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Bastardos


É bastante complicado analisar esse novo trabalho de francesa Claire Denis: Bastardos é um filme que apresenta ótimos momentos e um excelente protagonista, mas alcança um resultado desigual em seu contexto geral. Marco (personagem do ótimo Vincent Lindon) é um capitão de navio que é forçado a voltar à terra firme para socorrer sua irmã Sandra em um momento de desespero, já que o marido dela se suicidou, os negócios da família se afundaram e a filha se encontra internada devido a abusos sexuais. Sandra insiste em responsabilizar um poderoso homem de negócios pelas desgraças na família e Marco acaba por se aproximar da amante deste, Raphaëlle. Mas teria Sandra revelado toda a verdade ou apenas a parte que lhe convinha?

O ponto alto do filme certamente é o modo como Denis conduz a trama sempre em uma atmosfera crescente de tensão, que converge para verdades desagradáveis e recantos obscuros da psique humana. Em diversos trechos, porém, resta uma incômoda sensação de que a cineasta quer tanto realizar um filme perturbador que deixa o roteiro e o desenvolvimentos dos personagens em segundo plano. Se o protagonista é claramente definido em suas ações e motivações, não se pode dizer o mesmo dos outros personagens: tanto a Raphaëlle de Chiara Mastroianni como a Sandra de Julie Bataille poderiam ter mais nuances. Também fica a impressão de que a cineasta inseriu situações excessivas em uma trama que já tinha conflitos o suficiente – um exemplo disso é o acidente de carro que ocorre no trecho final.

O filme foi exibido na mostra Um Certo Olhar do último Festival de Cannes. Claire Denis é de fato uma diretora interessante e que provoca inquietação, mas seu filme está distante de ser essa obra-prima alardeada por alguns.

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