quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Amor Bandido


Jeff Nichols, diretor deste Amor Bandido (Mud, no original), fez um grande sucesso no Festival do Rio de 2011 com seu filme anterior, O Abrigo. Teve muito cinéfilo que até o considerou o melhor do evento. Não era para tanto. O filme partia de um argumento bastante interessante sim, mas deixava um pouco a desejar em termos de ritmo narrativo. Característica que é ainda mais realçada neste novo trabalho do diretor. Mud, que é o nome de um personagem, mas também faz referência à lama da região pantanosa onde se passa a história, é centrado em dois garotos com deficiências familiares e afetivas que se envolvem com um foragido da polícia.

O impulsivo Ellis mora em uma construção ribeirinha ilegal e sofre não somente pela iminente separação dos pais, mas também pela perspectiva de desintegração de todo um estilo e vida, já que a mãe pretende levá-lo para viver na cidade. Já seu melhor amigo Neckbone, que muitas vezes é a voz da razão, é órfão e vive sob a tutela do tio alcóolatra e mulherengo. É nesse contexto que os garotos conhecem Mud, um homem procurado pela polícia que se esconde nas matas à espera de uma oportunidade de reunir-se com a garota que ama. Cheio de histórias, Mud convence os garotos a ajudá-lo com suprimentos e, mais tarde, a fazer contato com sua namorada Juniper. Neckbone a princípio não confia nele, enquanto Ellis se encanta de cara com sua aura de herói romântico. Só que a aventura pode custar caro, já que Mud não está sendo caçado somente pelas autoridades.


Os garotos Tye Sheridan (premiado no Festival de Veneza por seu trabalho em Joe) e Jacob Lofland impressionam nos papéis de Ellis e Neckbone, enquanto é uma grata surpresa voltar a ver Matthew McConaughey em um papel mais denso. Depois de uma série de comédias românticas e aventuras medianas, o ator já tinha acenado uma revisão na carreira há dois anos com Killer Joe e agora deixa claro que realmente está dando mais atenção aos papéis que escolhe para si. O que é ótimo, já que Matthew é um ator de talento que vinha desperdiçando a carreira no mesmo tipo “pegador-gente-boa” filme após filme. Também é revigorante e surpreendente ver Reese Witherspoon, o retrato da garota de classe média, em uma personagem decadente, de caráter dúbio e totalmente desprovida de glamour. O elenco coadjuvante conta, ainda, com nomes de peso como Michael Shannon (o ator-fetiche de Nichols) e Sam Shepard.


Considerando isso, Mud tinha tudo para ser um filmaço. Mas passado o trecho inicial e estabelecidas as relações entre os personagens, o filme começa a ficar tempo demais girando em torno dos mesmos conflitos. Com uma premissa poderosa e um desfecho digno, certamente essa “barriga” poderia ter sido facilmente resolvida com uma boa edição, ou seja, se Nichols simplesmente fizesse um filme mais curto. Por que insistir em um longa com 130 minutos de duração se a trama não apresenta recheio para tanto?

Noves fora, Mud é um filme acima de média e só reforça a primeira impressão de que Jeff Nichols é um cineasta de futuro, a cuja carreira devemos ficar atentos. Qualidades artísticas o moço tem de sobra, apenas esperemos que a concisão que lhe falta surja com a experiência. A estreia do filme, que deveria ter acontecido há meses, vem sendo adiada pelo seu distribuidor brasileiro. Agora ele se encontra em pré-estreia a partir desta sexta e esperemos que logo tenha uma carreira normal em circuito. 


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