quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os Suspeitos


Esse filme era muito aguardado por dois motivos: primeiro, por ser a estreia em Hollywood do diretor canadense Denis Villeneuve (do cultuado Incêndios); segundo, pelo invejável elenco reunido. Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Viola Davis, Melissa Leo, Terrence Howard, Paul Dano, Maria Bello. Sim, todos esses talentos reunidos em um filme só. Como não ficar ansioso para ver?

Os Suspeitos parte de um início instigante: Hugh Jackman é Keller Dover, um pai de família presente e amoroso que perde as estribeiras quando sua filhinha desaparece a poucos metros de casa junto com a filha de seus amigos e vizinhos. A polícia logo prende um suspeito, mas o rapaz, que tem evidente atraso mental, não diz nada de aproveitável depois de um longo interrogatório e acaba sendo solto. Decepcionado com a polícia e assustado com as estatísticas que dizem que com o passar dos dias diminuem as chances de encontrar sua menina com vida, Keller resolve agir por conta própria.


No início, o espectador poderá pensar “por que o filme se chama Os Suspeitos se só há um?”. E tudo corre nos trilhos enquanto Keller se embate com esse único suspeito e com seus próprios limites morais. Tensão na medida certa, dilemas interessantes, pistas de que em breve saberemos verdades ocultas e inconfessáveis sobre aquelas pessoas. Todos parecem ter um passado cheio de detalhes incômodos. Porém o filme parece perder coesão e substância em sua segunda metade, justamente à medida que a trama se volta para outros suspeitos.

O que mais incomoda no roteiro é a curva dramática e o desenvolvimento (ou falta dele) de alguns personagens, como se o roteirista Aaron Guzikowski estivesse tão obcecado em rechear a parte final de reviravoltas e mudanças de foco que acabasse por deixar alguns personagens à deriva. O mais prejudicado é o policial interpretado por Jake Gyllenhaal. A despeito da belíssima atuação de Gyllenhaal e de seu tipo com cacoetes, tatuagens pouco usuais e menções a um passado turbulento, seu personagem é mal resolvido e fica carente de aprofundamento. É bastante frustrante quando um roteiro insere pistas e depois deixa o espectador sem suas respectivas recompensas. E não se pode culpar a edição, já que o longa ultrapassa duas horas e meia de projeção. Tempo extra que é desperdiçado em cenas apelativas (como a das cobras) e de pouca relevância para a trama.


Resumindo, o roteiro do inexperiente Guzikowski é o que mais deixa a desejar; a direção de Villeneuve, embora pouco firme, ainda tem lá seus méritos; mas é o elenco que brilha e consegue manter o espectador interessado quando tudo o mais parece vacilar. Os Suspeitos é um filme que deve agradar apesar de seus tropeços, mas seu potencial era tão maior que o sentimento de decepção é inevitável. 

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