domingo, 27 de outubro de 2013

Bologna: gastronomia e história caminham juntas

Vista da Piazza del Nettuno

Gastronomia e história convivem lado a lado na capital da Emilia Romagna. A Universidade de Bologna é considerada a mais antiga do mundo, tendo sido fundada em 1088. Por conta desse prestígio milenar, até hoje a cidade atrai jovens não somente de todas as partes da Itália, mas do mundo inteiro, o que torna o centro de Bologna sempre muito movimentado e vibrante. Só que os seus encantos vão além das muitas lojas e bares. A primeira coisa a chamar a atenção na cidade é a sua cor: enquanto a maioria das cidades italianas pende para o amarelo, Bologna é vermelha. Suas construções góticas, com janelas em ogiva, e o tom predominantemente escarlate lhe dão um aspecto fascinante e dramático.

Exemplo da típica arquitetura gótica dominada por tons vermelhos

Contra o céu recorta-se a inconfundível silhueta das chamadas duas torres, cujas origens remontam ao século XII. A maior, a Torre degli Asinelli, é aberta a visitação e tem 97,2 metros de altura. Do alto dela, é possível ter uma vista completa do centro. Bem a seu lado está a Torre Garisenda, que foi erguida devido a uma disputa de poder entre os Asinelli e os Garisendi, mas terminou como uma humilhação para esses últimos, já que a torre, tendo ultrapassado sessenta metros, começou a inclinar-se perigosamente. Os trabalhos foram interrompidos e, posteriormente, ela teve que ser reduzida – ficando com a altura atual de 48 metros. Vale mencionar que também a Asinelli tem uma leve inclinação. Dante Alighieri, que estudou direito na Universidade de Bologna, ficou tão impressionado com a história que depois citaria a torre na sua Divina Comédia – mais especificamente, nas linhas 136 a 138 do 31º cântico do Inferno: “Como acontece olhando a Garisenda debaixo do pendor – se lhe abeira uma nuvem, parece que mais penda”.    

A Torre degli Asinelli (à direita) ao lado da "baixinha" Garisenda (à esquerda)

No que diz respeito à gastronomia, a cidade é famosa por seus pratos de massa, que vão desde a clássica lasagne alla bolognese a especialidades como os tortellini ou o tagliatelle al ragu. No entanto, não procure por lá o prato que mais vemos nos restaurantes italianos fora da Itália: o spaghetti alla bolognese foi inventado no exterior e não tem nada a ver com a cidade que leva seu nome. De qualquer modo, é bom evitar os locais com cara muito turística e comer em uma pequena trattoria, ou seja, onde comem os italianos de fato. A Trattoria Fantoni é uma boa pedida: comida caseira, bom preço e a poucos minutos da Piazza del Nettuno (Via del Pratello 11, para chegar basta pegar a Via Ugo Bassi em frente à praça). O ambiente é simples, mas o leque de opções vai da já citada lasanha a especialidades mais exóticas como a bisteca de cavalo. Ali perto, na Via Monte Grappa 11, se localiza a Gelateria Gianni, cujos sabores vale a pena conhecer.

"Tortellini feito por vocês para enganar os maridos". Massa fresca e bom humor nos cartazes

Com o paladar satisfeito, falemos um pouco mais de história e cultura geral. Como em toda cidade italiana, o centro nervoso de Bologna se expande a partir de uma praça principal. Neste caso, são duas praças adjacentes que convergem para um enorme espaço: a Piazza Maggiore e a Piazza del Nettuno, onde reina soberana uma Fontana adornada com uma bela escultura do deus dos mares, obra do célebre Giambologna (mesmo artista de Il Ratto delle Sabine, citada no artigo sobre Firenze). No mesmo local se encontra a Basilica di San Petronio, que não pode ser plenamente admirada nas fotos porque passava por reformas na ocasião.

La Fontana del Nettuno, figura central da praça e ponto de encontro da juventude

À parte a beleza austera dos prédios que circundam o espaço – todos construídos em estilo gótico –, há, ainda, particularidades que não estão nos guias de turismo. O Palazzo Re Enzo, construído no século treze, guarda uma inexplicável curiosidade: em seu piso térreo existe um entroncamento de dois corredores onde duas pessoas podem se falar através das paredes sem que ninguém mais ouça. Isso mesmo, a voz é levada de um canto ao seu oposto e alguém passe pelo meio não escuta a conversa, somente as pessoas posicionadas no lugar correto. E mais: o artifício só funciona em quinas cruzadas, nunca perpendiculares. A explicação é que o prédio servia de confessionário em tempos de peste, quando seria perigoso que os sacerdotes se aproximassem dos enfermos.

Flagramos uma pessoa em um dos pontos, a outra (fora do alcance da lente) estava no canto que faz um "x" com ele

Se o visitante escolher o final de novembro para visitar a cidade, pode acrescentar a todos esses atrativos ainda o Cioccoshow, o festival de chocolate que acontece anualmente e reúne os maiores artesãos do setor em inúmeros stands espalhados em torno da Piazza del Nettuno. Esse ano o evento acontece entre os dias 13 e 17 de novembro.

Chocolate para todos os gostos, como não amar?

A visita que originou essa matéria contou com a ajuda inestimável de Flavio Criseo, um siciliano que migrou para Bologna há muitos anos e conhece como poucos os segredos da cidade. Grazie, Flavio!


Confiram abaixo algumas outras fotos:

Bologna vista do alto da Torre degli Asinelli

Mais uma visão das imponentes construções góticas que dominam o centro

A Basilica di San Petronio, com a fachada protegida devido a obras de restauração

Um recanto um pouco mais romântico

As duas torres... em chocolate!


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