Durante uma chuva torrencial que para toda Buenos Aires, Alma está em um congestionamento em seu carro quando um estranho lhe pede abrigo. Ele se chama Roberto, é espanhol e veio à Argentina para resolver um drama familiar. Alma, por sua vez, acaba de abandonar o marido e está vivendo temporariamente no carro. Mesmo sem conhecê-lo, Alma acolhe Roberto e o inusitado encontro cria um laço entre os dois estranhos enquanto a chuva castiga a cidade por três dias.
A diretora e roteirista Paula Hernández (a mesma de Herencia) realiza um retrato singelo da solidão e dos encontros e desencontros da vida. Chuva é um filme de poucas surpresas, contemplativo, melancólico, cheio de silêncios. O temporal quase bíblico que domina a tela é mais eloquente do que os personagens, que parecem aprisionados em seus traumas insondáveis. Alma não sabe porque desgostou do marido de um dia para outro; Roberto não sabe como encarar o reencontro com o pai em circunstâncias trágicas – parece que houve um desentendimento entre eles, mas o filme não se detém nisso.
Por vezes, é um pouco frustrante o modo como várias questões ficam no ar, mesmo que o filme deixe claro que sua intenção primordial é levantar questões e não responder perguntas. Em um filme de caráter tão subjetivo, é o bom desempenho de Valeria Bertuccelli e Ernesto Alterio que acaba fazendo a diferença. A humanidade com que os atores revestem seus personagens faz com que nos interessemos por suas dores mesmo quando eles pouco revelam.
Nota: 6,5
(Lluvia, de Paula Hérnandez, Argentina, 2008. 110 minutos. Première Latina)
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