quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Conversando com Gerardo Herrero



Produtor requisitado, com mais de 90 filmes no currículo, o espanhol Gerardo Herrero também costuma transitar atrás das câmeras quando se encanta por algum projeto em especial. Foi assim com O Corredor Noturno, filme que traz Herrero pela primeira vez ao Festival do Rio.

Entrevista: 


Você trabalha mais como produtor do que como diretor. O que te apaixonou no livro O Corredor Noturno para que resolvesse assumir a direção?

Na verdade, eu já dirigi doze ou treze filmes (segundo o IMDb, 16). Mas ganho a vida como produtor. E de vez em quando aparecem histórias que eu mesmo quero contar, como foi o caso desta. O que eu gosto nesse filme é poder falar também do cotidiano, porque ele tem duas tramas: é um thriller na superfície, mas também um filme que me permitiu falar sobre as relações de poder, ambição, o que se faz para manter o posto, o duplo, a personalidade oculta de cada um.

Você vê Eduardo como um Fausto moderno?

Sim.

E o fato do chefe ser americano contém uma mensagem política?

Não nesse sentido, mesmo porque depois também tem um executivo italiano. É mais o mundo das multinacionais, a postura do estrangeiro que chega a um país com o qual não tem nenhuma identificação, nenhum contato. Isso lhes permite uma maior frieza na hora de tomar decisões.

Você também é produtor de dois outros filmes que estão neste Festival, Cornucópia e O Segredo dos Seus Olhos. É a primeira vez aqui?

No Rio de Janeiro, não. Mas no Festival sim.

E o que está lhe parecendo?

Tenho a impressão de que é um Festival que movimenta bastante a cidade, estive na sessão de O Segredo dos Seus Olhos e as salas estavam todas cheias. Parece que há muita identificação da parte do público.

Você é espanhol, mas faz muito cinema na Argentina. Como é essa relação?

Fico encantado, adoro conhecer novas sociedades e fazer novos amigos. Eu acho que sou um pouco como o personagem do filme, tenho uma dupla personalidade, meio espanhola, meio argentina. E ainda temos a vantagem do mesmo idioma.

O Corredor Noturno é uma adaptação fiel ao livro do Hugo Burel?

Não sei bem o que é fidelidade, já que quando mudamos de um meio literário para outra arte como o cinema obrigatoriamente é preciso fazer uma série de adaptações. Mas o autor do livro ficou muito satisfeito, então eu acho que isso é um bom sinal.

Você acha que essa história tem uma abordagem parecida com El Método, do Marcelo Piñeyro, no sentido de mostrar as grandes empresas como entidades “sem alma”?

Não havia pensado nisso, mas é bem apontado. Sim, as multinacionais realmente não tem alma. Eles oferecem benefícios e poder, mas tiram tudo das pessoas quando elas não mais lhes convém e vão buscar uma mão-de-obra mais barata onde conseguirem. Os empregados de multinacionais são como peças descartáveis, sendo despedidos quando já não lhe dão a mesma rentabilidade.

Para encerrar, tem uma frase que o Sr Conti diz no filme que eu gostaria que você comentasse: “a moral é uma invenção dos fracos”.

É uma dura reflexão sobre a vida corporativa feita por um personagem complicado, mas que diz uma verdade. É complicado resumir assim fora do contexto, mas acho que Conti quer dizer que as pessoas se refugiam na moral para não precisar aceitar determinadas coisas.

2 comentários:

  1. Erika, não conhecia o trabalho de Gerardo Herrero nem como diretor ou como produtor. Mas foi ótimo ler o conteúdo, pois adoro entrevistas, especialmente com profissionais do cinema cujas obras eu ainda não conferi. Ah, e havia esquecido de comentar que fiquei bem surpreso com os comentários positivos que você teceu sobre "Matadores de Vampiras Lésbicas". As expectativas ficaram baixas quando veio as críticas negativas, mas elas voltaram a ficar como antes agora.

    Beijos.

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  2. Obrigada, Anselmo. Vou conferir sim.

    Alex, é como eu até falei no texto: acho que as pessoas que criticaram o filme não consideraram a proposta trash (e até mesmo metalinguística) dele.

    Bjs,
    Erika

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