terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Dia da Saia


Sonia Bergerac é uma professora que vive alguns dramas típicos das escolas públicas francesas: alunos agressivos e desinteressados, rixas e provocações entre as diferentes etnias, apatia da direção em conter os conflitos. Movida a anti-depressivos e abalada com problemas pessoais, um dia ela dá um basta em tudo. Depois de mais um começo de aula difícil e de sofrer o desrespeito habitual, Sonia encontra uma arma em poder de um dos estudantes. O rapaz a ameaça e ela, assustada, dispara acidentalmente, o que dá início a um dramático e inesperado conflito.

As ameaças que sofrem os professores é assunto grave e sério, seja na França ou em qualquer outro país. Muitos profissionais desenvolvem distúrbios psicológicos irreversíveis ao ter que lidar diariamente com alunos que não apenas desrespeitam sua autoridade como docente, mas também ameaçam sua integridade física. Logo no princípio, o filme deixa evidente o quanto Sonia está em uma situação-limite. Insatisfeita profissionalmente e com problemas emocionais, é uma questão de tempo até que a professora tenha um colapso. Só que cada um reage de um jeito à pressão e, por uma conjunção de fatores, a reação de Sonia acaba ganhando proporções trágicas.

Um grande mérito do filme é lidar com um assunto realmente sério e pesado com um toque de loucura, no melhor estilo “um dia de fúria de Isabelle Adjani”. Sonia foi uma vítima sim, mas a partir do momento em que surta deixa de lado a postura frágil e mostra a coragem e desprendimento da qual só os desesperados são capazes. Ponto para a intensa e apaixonada interpretação de Adjani, que por muitos anos teve seus talentos dramáticos ofuscados pelo carma de ser uma das mulheres mais belas do cinema. Mais madura e nesse papel isento de glamour, a musa submerge e vem à tona a ótima atriz.

Só é uma pena que um filme de tantas qualidades tropece em besteiras, como inserir depoimentos tolos para explicar didaticamente as bases do problema ou destacar personagens não tem absolutamente nenhuma função, como a colega de ofício que defende Sonia e o ex-marido arrependido. Mas o maior tropeço está no desfecho, que escorrega em um sensacionalismo barato que o dinamismo e humor ácido da trama vinha evitando até então.

Em todo caso, O Dia da Saia – sim, esse título procede – é um trabalho visceral e bastante surpreendente que vale a pena conferir.

Nota: 7,5

(La Journée da la Jupe, de Jean-Paul Lilienfeld. FRA / BEL, 2008. 88 minutos. Panorama do Cinema Mundial)

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