quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Distante Nós Vamos


Burt e Verona tem trinta e poucos anos e esperam o primeiro filho. Surpreendidos com a notícia de que os pais de Burt se mudarão para a Bélgica justo quando o neto está prestes a nascer, os dois decidem que nada mais os prende à cidade onde vivem. Afinal de contas, os pais de Verona já morreram e ambos tem trabalhos flexíveis. Indecisos sobre o melhor lugar para morar, o casal resolve empreender uma viagem durante a qual escolherão uma nova cidade para assentar a família. Mas, ao visitar amigos e parentes, eles também serão confrontados com diferentes relações e modelos familiares, trazendo à tona dúvidas e questionamentos inéditos.

A viagem de Burt e Verona à procura do novo lar, na verdade, é uma viagem em busca de um lugar – não necessariamente geográfico – onde eles sintam a segurança familiar que ainda lhes falta. Não por carência de amor entre eles e sim pelas inseguranças que passam pela cabeça de qualquer casal e que a chegada de um filho só amplifica. Mas, ao mesmo tempo em que o longa lida com questões da maior profundidade, seu formato road movie lhe confere dinamismo, ritmo e até mesmo leveza. Os momentos mais divertidos ficam por conta do encontro do casal com a prima pseudo-mística interpretada por Maggie Gyllenhaal.

A exemplo do que havia feito no perturbador e dolorido Foi Apenas um Sonho, Sam Mendes torna a apontar suas lentes para a geração dos 30 e poucos anos que não tem muita certeza dos rumos que está dando à vida. E em uma cultura como a americana, tão incisiva em rotular quem são os vencedores e perdedores, não é nada fácil se olhar neste espelho. Burt e Verona, pressionados pela chegada iminente do filho, se veem obrigados a confrontar todos os medos até então empurrados para baixo do tapete. Mas, ao contrário do casal de Foi Apenas um Sonho, eles não são destroçados por seus questionamentos e tem a oportunidade de se fortalecerem como casal. O que equivale a dizer que desta vez o cineasta trocou a desesperança por uma abordagem mais bem-humorada e positiva a respeito dos mesmos dilemas.

O elenco de Distante Nós Vamos é bastante homogêneo, sem que ninguém em especial se sobressaia, mas com boas atuações no geral, nivelando o conjunto por cima - os pouco conhecidos John Krasinski e Maya Rudolph interpretam o par central com bastante naturalidade. Outro aspecto interessante na filmografia de Sam Mendes é o peso que o diretor costuma dar em suas histórias às relações humanas, independentemente do tema escolhido. Sejam soldados no Kuwait, famílias suburbanas ou organizações mafiosas, é o elemento humano que sempre norteia a direção de seu trabalho. E isso certamente é uma visão adquirida em sua formação original como homem de teatro, o que só enriquece seu trabalho na sétima arte. Distante Nós Vamos é mais uma bela contribuição ao cinema de um cineasta sempre inquieto e pertinente.

Nota: 8,5

(Away We Go, de Sam Mendes. EUA / UK, 2009. 94min. Panorama do Cinema Mundial)

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