segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Downloading Nancy


Vítima de abusos sexuais quando criança, Nancy encontrou na auto-punição uma estranha forma de alívio. Agora ela é casada com Albert, um executivo que só pensa em golfe e não percebe que a esposa se corta com gilete e passa horas na internet à procura de pervertidos. Até o dia em que, ao voltar do trabalho, ele encontra um bilhete dela dizendo ter ido visitar amigos em outra cidade. Só que Nancy foi ao encontro de Louis Farley, um homem que conheceu na internet e com quem fez um pacto.

Sem dúvida, o filme mais perturbador que assisti desde Irreversível. Com a diferença de que, neste caso, a violência emocional consegue ser ainda mais cruel do que a física (que não é café pequeno). A protagonista teve sua vida destruída desde muito cedo, sem que ninguém depois disso tenha percebido exatamente o quão arrasada ela vive. Ou sobrevive. Alguém que precisa anestesiar as dores da alma mutilando a própria carne e que há muito deixou de lado qualquer instinto de auto-preservação. Uma mulher que já está no ponto de falar sem rancor do tio que esfacelou seu útero por estuprá-la seguidamente desde que ela tinha sete anos. O longa contempla um momento da vida de Nancy em que seu estado mental já está tão deteriorado que ela não busca mais nada além da destruição, da dor, do caos. Baseado em uma história real, impressiona que o filme seja tão visceral e chocante e, ao mesmo tempo, consiga estabelecer um inferno desses de um modo que a violência não soa gratuita nem apelativa.

Contribui muito para o resultado final a interpretação intensa e sofrida de Maria Bello, com uma construção de personagem delicada em que a apatia e falta de expressão em seu rosto ganham um significado dramatúrgico muito forte. Já seus partners Jason Patric e Rufus Sewell apenas saem do caminho da atriz, que carrega o filme nas costas. Destaque para a cena em que a terapeuta vivida por Amy Brenneman perde a estribeiras por causa da própria incapacidade de ajudar aquela mulher a reconquistar algum rumo na vida.

Recomendo, desde que o caro leitor não tenha estômago fraco. E uma coisa posso garantir: gostando ou não do filme, é impossível sair da sala escura indiferente a ele.

Downloading Nancy (idem), de Johan Renck. Com Maria Bello, Jason Patric, Rufus Sewell, Amy Brenneman. Estados Unidos, 2008. 96min.

Mostra Midnight Movies

Nota: 8,0

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