domingo, 19 de outubro de 2008

Fatal


Nesta belíssima e triste história de amor, Ben Kingsley interpreta David Kepesh, um conceituado professor universitário e crítico cultural. Inteligente e sofisticado, ele tem uma visão cínica dos relacionamentos e coleciona belas mulheres sem se comprometer com nenhuma. David deixou a esposa há muitas décadas, o que faz com que hoje em dia seu relacionamento com o filho seja marcado por acusações e amargura de ambas as partes. Mas essa até certo ponto confortável insatisfação muda quando o sexagenário intelectual conhece Consuela Castillo, uma estudante cubana de 24 anos interpretada por Penélope Cruz (a atriz tem 10 anos a mais, mas tudo bem). No começo, seria apenas mais um casinho como muitos outros. Mas o caçador se torna presa de sua caça e logo David fica dependente de Consuela e obcecado em antecipar o momento em que ela o trocará por um homem mais jovem.

Baseado em O Animal Agonizante, de Philip Roth, Fatal é dirigido pela espanhola Isabel Coixet, realizadora dos ótimos A Vida Secreta das Palavras e Minha Vida Sem Mim. Pela primeira vez, a cineasta dirige um filme que não roteirizou – função desta vez entregue a Nicholas Meyer, que anteriormente escreveu Revelações, também adaptado da obra de Philip Roth. A parceria foi tão bem-sucedida que é difícil perceber uma mudança de tom em relação aos longas anteriores de Isabel. Continuam presentes alguns elementos já identificados com a filmografia da diretora: amores doloridos, personagens unidos pela solidão, ameaça de morte pairando no ar, incomunicabilidade, desesperança... Mas tudo isso é demonstrado na trama de um modo muito sensível e delicado, distante do tom niilista que costuma acompanhar outras histórias desse mesmo estilo.

É uma pena que o título em português não tenha a mesma significância do original (Elegy). Segundo a Enciclopédia Britânica, por elegia entende-se um gênero poético surgido na Grécia do século VII a.C. e que se caracteriza não pela forma, mas pela temática: a tristeza dos amores interrompidos pela infidelidade ou morte. Nada poderia estar mais próximo do estado de espírito desses personagens do que a elegia, seja real ou mental. Porque o filme não deixa dúvidas de que é o próprio David que coloca em movimento a roda de acontecimentos que faz com que o seu romance com Consuela se encaminhe para um desfecho tão tumultuado. Incapaz de aceitar a verdade simples de que aquela mulher jovem e bonita realmente gosta dele, David mina um relacionamento que poderia ser saudável com seu ciúme sem propósito e medo irracional de se comprometer com alguém depois de tanto tempo.

Ben Kingsley está comovente no papel, mostrando para o espectador de forma sutil e muito convincente o quanto aquele homem finge uma superioridade e sarcasmo que não sente de verdade todos os dias de sua vida. E a bela Penélope Cruz prova neste filme que pode atuar bem em inglês sim (ao contrário do que mostram todas as suas tentativas anteriores) se for conduzida por uma direção sensível e acertada. Já o elenco coadjuvante é abrilhantado pelas participações de luxo de gente como Dennis Hopper, Patricia Clarkson e Peter Sarsgaard.

Um filme triste, lindo e perturbador. Imperdível.

Um comentário:

  1. Não esperava tanto deste e me surpreendeu, a conotação do sexo nele é bem forte. Também comentei ele no meu blog, abraço

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