sábado, 4 de outubro de 2008

Vingança


Em uma pequena cidade gaúcha, uma garota é violentada e espancada. No Rio de Janeiro, o misterioso Miguel desembarca de um ônibus e parece ter um objetivo muito claro em mente ao espreitar a gatinha de praia Carol. Os dois iniciam um relacionamento tenso e apaixonado, embora Miguel faça de tudo para não revelar quem é nem o que está fazendo na cidade.

Vingança é um filme diferente, com uma tensão muito presente da primeira à última cena. A violência é muito mais latente do que presente, tanto que nos momentos em que ela ocorre causa menos impacto do que a forte sensação de algo pairando no ar. O filme retoma um tema bem clássico – a lavagem da honra com sangue – e o insere dentro de um contexto contemporâneo. E o legal é que algo tão arcaico fica bastante possível dentro daquele universo de “macheza gaúcha” representado principalmente através do personagem de José de Abreu. Fica claro que aquele homem controla os empregados e a família (conceitos que se misturam no caso de Miguel) com o mesmo pulso com que controla seu gado.

O elenco parece um pouco inseguro no início, mas depois vai ganhando força. O personagem de Erom Cordeiro, com seu jeito calado de matuto e o olhar inquieto que demonstra uma esperteza sub-aproveitada, é a mola propulsora do filme. Manipulado em seus brios e empurrado para a desgraça como “boi de piranha” para satisfazer a sede de sangue daqueles que não querem se sujar, o personagem tem um quê de herói trágico que contrasta com a leveza e inconseqüência de Carol, personagem da bonitinha Branca Messina (como essa menina se parece com a Giovanna Antonelli!).

O roteiro peca por algumas soluções que parecem forçadas, como o motivo que obriga Miguel a se aproximar de Carol primeiro ao invés de seguir direto para seu objetivo. Afinal de contas, não seria nada difícil abordar diretamente a questão que lhe interessava. Mas também se não fosse desse jeito não teríamos filme, não é mesmo? Algumas situações que não são bem explicadas (como a história da foto de Bruno em um jornal) ficam em segundo plano, ainda mais se considerarmos que, já em seu primeiro filme, o diretor e roteirista Paulo Pons conseguiu um feito por vezes raro na sétima arte brasileira: realizar um filme que não pareça uma colagem de tudo que anda fazendo sucesso por aí.

Um atrativo a mais nas sessões deste Festival é poder assistir também ao simpático e romântico Um, curta apresentado antes de Vingança.

Vingança, de Paulo Pons. Com Erom Cordeiro, Branca Messina, Barbara Borges, Marcio Kieling, Guta Stresser. BRA, 2008. 102min.

Première Brasil – Mostra Competitiva

Nota: 7,0

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