terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Expresso Trans-Siberiano


Roy e Jessie, um casal americano em crise, viaja de Pequim para Moscou no tradicional Expresso Trans-Siberiano, hoje em dia muito utilizado na rota do tráfico de drogas. Durante o percurso, ficam amigos dos extrovertidos Carlos e Abby. Quando Roy é deixado por engano numa das paradas e Jessie tem que descer do trem para esperá-lo na estação seguinte, o casal decide fazer companhia a ela.

Para começo de conversa, a história só é possível graças à estupidez total dos personagens principais. Nem uma criança de cinco anos daria trela a dois desconhecidos numa viagem de trem pela Rússia, mesmo depois de ouvir uma conveniente advertência de que aquele trem era freqüentado por traficantes (aviso dado por outro estranho, mas tudo bem). Para piorar, Carlos e Abby inspiram encrenca só de olhar para eles. Mas isso nem chega a ser um grande problema. Afinal de contas, ótimos filmes já foram feitos baseados na burrice de alguém – um exemplo recente é Onde os Fracos Não Têm Vez. Enquanto está nesse jogo do espectador esperar o momento em que a barra vai pesar (porque é certo que vai), até que o filme se desenvolve bem. Principalmente na exploração do desejo da mocinha pelo pedaço de péssimo caminho Carlos (o guapo Eduardo Noriega), evidência que só o marido simpaticão parece não notar (Woody Harrelson bonzinho, há quanto tempo não vemos isso?).

O filme vai por água abaixo mesmo em sua segunda metade, conforme Roy e Jessie vão se dando conta do tamanho da encrenca em que estão metidos. E aí a história entra em um ritmo frenético e vai avançando graças a acontecimentos absurdos e inexplicados como, por exemplo, a questão do desmembramento do trem. Até mesmo o motivo que faz com que todo o resto aconteça (Roy ter ficado para trás na parada) não é posto na tela de forma muito convincente. De repente, ficamos tontos com tantos bandidos, perseguições e até uma desnecessária cena de tortura. E o desfecho, então, vem piorar o que já estava ruim e confirmar a curva descendente que o filme faz.

Mas o que realmente soa rançoso no longa é aquela visão ultrapassada do cidadão americano viajando para um país primitivo, pouco civilizado, e entrando numa roubada graças à sua ingenuidade. Parece filme da época da guerra fria. Desde o ótimo e surpreendente O Maquinista (2004), Brad Anderson só vinha realizando alguns trabalhos para a TV. Que decepção ver um novo filme seu na telona nessas condições.

O Expresso Trans-Siberiano (Transsiberian), de Brad Anderson. Com Woody Harrelson, Emily Mortimer, Eduardo Noriega, Kate Mara, Ben Kingsley. Espanha / Alemanha / Reino Unido / Lituânia, 2008. 111min.

Mostra Panorama

Nota: 3,0

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