domingo, 16 de outubro de 2011

Itália: Ame-a ou Deixe-a


Gustav e Luca moram em Roma e tem percebido que muitos de seus amigos tem deixado a Itália para buscar melhores condições de vida e trabalho em outros países europeus, como a Alemanha ou a Inglaterra. Quando o senhorio pede que eles saiam do apartamento onde moram, Gustav – que tem uma proposta de ir para Berlim – acha que é chegado o momento de deixar não somente o apartamento, mas o país. Luca, por outro lado, resiste e acredita que, apesar dos problemas, ainda vale a pena ficar. Ambos decidem adiar a decisão e viajar pelo país por seis meses, acreditando que verão coisas e conversarão com pessoas que ajudarão a resolver o impasse.

Eles estão de volta. Gustav Hofer e Luca Ragazzi, que estiveram no Festival do Rio de três anos atrás com o igualmente bom documentário De Repente, no Inverno Passado, agora retornam com este filme muito oportuno sobre a atual condição da Itália – o filme, aliás, fica ainda mais rico se o espectador assisti-lo em conjunto com Para Sempre Silvio. O fenômeno de evasão relatado por Gustav e Luca acontece, sobretudo, dentre os jovens de nível superior: em uma Europa integrada, sempre surgem melhores oportunidades fora do país.

Um fator muito interessante no trabalho de Luca e Gustav é o modo como eles falam abertamente de si mesmos para, dessa forma, falar do país. Tanto no filme anterior (que discutia como a homofobia tem sido agravada pela era Berlusconi) como neste, os rapazes partem de seus próprios dilemas e dificuldades e acabam sendo universais, por discutirem questões que atingem boa parte da população. Claro que ajuda muito o fato de ambos serem bastante articulados e naturais diante das câmeras, sempre com um senso de humor e ironia bastante aguçado.

Tenho lá minhas dúvidas se eles de fato queriam deixar a Itália ou se isso fazia parte de um argumento pensado apenas para dar uma direção ao filme, mas isso não importa. Neste divertido e politizado road movie que dá voz aos mais diversos tipos de pessoas, sejam eles velhinhas insanas partidárias de Berlusconi ou um prefeito comunista assumidamente gay, o espectador terá uma visão mais global da Itália e sua diversidade, um povo de origens étnicas múltiplas, crenças antagônicas e que vive um momento politicamente obscuro. Isso é especialmente elucidativo para os brasileiros, que, de um modo geral, ainda tem aquela visão dos italianos somente como os camponeses efusivos das novelas da Rede Globo.

Dois momentos do filme que me tocaram de forma especialmente significativa (mas estes, por razões pessoais) foram a participação do famoso escritor siciliano Andrea Camilleri e uma frase, bastante conclusiva: “A vida é breve demais para não ser italiano”. Devemos ser gratos ao filme, ainda, por ter elevado o nível da mostra Foco Itália. Valeu, rapazes!

Itália: Ame-a ou Deixe-a (Italy: Love it, or Leave it), de Gustav Hofer e Luca Ragazzi. Com Gustav Hofer e Luca Ragazzi. Itália / Alemanha, 2011. 75 minutos. Foco Itália.

Cotação: 8,0

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