quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vaqueiro


Julián Lamar é um ator que vem tendo dificuldade em conseguir bons papéis. Sentindo-se sempre prejudicado de alguma forma e desiludido com o jogo de interesses da profissão, Julián é como um estranho em seu próprio meio. Quando fica sabendo que um famoso diretor norte-americano decidiu filmar um western na Argentina, ele fica obcecado em conseguir um teste porque se convence de que esse papel seria sua chance derradeira de se dar bem na carreira.

É muito curioso ver como esse filme argentino dialoga com o nacional Riscado. Nele, vemos um (aparentemente) bom ator, que entende do riscado, gramar de teste em teste, meio cansado do santo esquema de todo dia. Quem já fez testes para cinema sabe que são todos iguais, só muda o endereço: você passa por uma recepção, segura uma claquete (na verdade, um pedaço de papel) com seu nome, larga o papel no chão e manda o texto. E tem que soar natural e orgânico depois de ter passado por todo esse processo que não tem nada de natural, como se bastasse ligar um botão da emoção dentro de você.

O filme, utilizando-se da narração em off, mostra o todo o diálogo interior de Julián, com suas inseguranças e cansaço, enfim, sua inabilidade em lidar com o mètier. O ator Juan Minujín escreveu, dirigiu e protagonizou este seu primeiro longa-metragem baseado em algumas experiências pessoais e, ainda, em um sentimento comum a muitos atores daqui da América do Sul, o de que partir para uma carreira internacional seria uma solução mágica para as muitas dificuldades da profissão. Trata-se de um longa que dialoga muito bem entre Brasil e Argentina nesse sentido, apenas pecando pelo ritmo um pouco lento e também por se exceder na voz em off – mesmo sendo bem utilizado, esse é um recurso que sempre atravanca um pouco a fluência de um filme.

Minujín estava presente à sessão de ontem à noite no Sesc Botafogo 1 e, após  a exibição do longa, discorreu um pouco sobre essa busca do ator por reconhecimento, universo que ele conhece tão bem por experiência própria. Infelizmente, o papo não pode se estender muito porque o infame frequentador do Festival citado segunda-feira (ver post intitulado Vergonha Alheia) já avisou logo ao começo do debate que este teria que ser rápido para não atrasar a sessão posterior, exaltando o ânimo de outros cinéfilos que haviam testemunhado a grosseria feita a Mathieu Demy um dia antes. É frustrante para os que realmente apreciam a sétima arte perder oportunidades únicas de conversar com os realizadores por conta da intransigência de um único indivíduo.

Vaqueiro (Vaquero), de Juan Minujín. Com Juan Minujín, Leonardo Sbaraglia, Pilar Gamboa, Daniel Fanego, Guillermo Arengo. Argentina, 2011. 87 minutos. Première Latina.

Cotação: 7,0


Juan Minujín conversa com a plateia no Sesc Botafogo

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