segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Corpo Celeste


A história é vista sob a ótica de Marta, uma adolescente de 13 anos que retorna com a família para morar na Calábria depois de ter passado quase toda sua vida na Suíça. Seu país natal lhe soa alienígena e a comunicação não é o forte em casa, o que faz com que a menina observe com olhar perplexo a extremamente religiosa e um tanto hipócrita comunidade local. Vivendo um momento de transformações emocionais e hormonais, Marta questiona silenciosamente o pequeno microcosmo no qual está inserida. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes deste ano.

A ideia inicial de expor a sociedade e suas incongruências através do olhar puro da criança costuma render bons filmes, como o inesquecível A Culpa é do Fidel. Crianças e adolescentes, não estando ainda totalmente inseridos nas regras do jogo, tem por excelência a percepção ideal para notar tudo aquilo que há de contraditório, falso e imoral no seu entorno. E esta história tinha tudo para ser ainda mais contundente, por ainda tocar na questão das convenções religiosas. Mas não é o que acontece. Dá pena ver o desperdício de argumentos que poderiam ser interessantíssimos, como, por exemplo, a manipulação política do padre sobre seu rebanho. Só que, em vez de focar em alguns desses temas e desenvolvê-los, o roteiro enfileira uma série de situações potencialmente boas e não se aprofunda em nenhuma delas.

O bom elenco apenas vaga meio sem rumo ao longo de toda a projeção até chegar ao desfecho apático. Além desta indefinição geral nos rumos da história, o ritmo desigual também não ajuda muito. Trata-se do segundo filme da diretora e roteirista Alice Rohrwacher – tendo sido o primeiro um documentário. O que aumenta a sensação de desperdício é que em diversas cenas podemos perceber um certo potencial, um lampejo muito breve do que o filme poderia ter sido se tivesse sido melhor escrito e desenvolvido. O que fica de positivo para nós, espectadores, é o trabalho da menina Yle Vianello, que arrasa em sua estréia no cinema como Marta.

Corpo Celeste (idem) de Alice Rohrwacher. Com Yle Vianello, Salvatore Cantalupo, Pasqualina Scuncia, Anita Caprioli, Renato Carpentieri. Itália / Suíça / França, 2011. 99 minutos. Foco Itália.

Cotação: 5,0

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