terça-feira, 4 de outubro de 2011

Bonsai


Julio é um poeta introvertido e com dificuldades de relacionamento desde que se separou de Emilia, seu grande amor, oito anos antes. Depois de ser preterido por outro candidato em um trabalho de transcrição que faria para um famoso romancista, Julio mente para a atual namorada e, para sustentar sua fantasia, começa ele mesmo a escrever um romance que transcreve como se fosse o original do escritor. Antes mesmo que se dê conta, a história que inventa toma a forma de seu relacionamento com Emilia. O longa, baseado no romance de Alejandro Zambra, foi exibido no Festival de Cannes deste ano, na mostra Um Certo Olhar.

Bonsai é o segundo longa de Cristián Jiménez (o primeiro foi Ilusões Óticas, que passou no Festival de 2009 e esteve em circuito há uns dois meses) e já se percebe, de um filme para outro, uma notável evolução do cineasta chileno. Com personagens bens construídos e muitas referências literárias, o filme nos apresenta a curiosa busca por aceitação desse homem que acaba sendo ghost writer de si mesmo e, dessa forma, encontrando um modo bastante estranho de compartilhar suas frustrações emocionais.

O filme se divide entre dois recortes na vida do protagonista: quando ele ainda era um estudante e estava completamente apaixonado por Emília e no presente, quando tem um relacionamento mais no estilo “amizade colorida” com Blanca. É interessante notar que o Julio adulto parece, sob muitos aspectos, mais imaturo do que sua versão adolescente. Embora o contraste entre as duas fases seja importante para a trama – até mesmo para justificar algumas de suas atitudes –, o excesso de idas e vindas cansa um pouco, principalmente porque o espectador perde a conta de quantas vezes vê na tela as legendas “oito anos antes” e “oito anos depois”. Também há aqui e ali algumas cenas desnecessárias, o que faz com o que o filme pareça mais longo do que os 95 minutos que tem de fato.

Esses pontos deixam Bonsai menos dinâmico, mas não invalidam suas qualidades. Trata-se de um filme bastante sincero e com uma história de apelo universal. Deixando de lado o modo sui generis com o qual Julio extravasa seus fantasmas do passado, o que resta é a incomunicabilidade e dor de ver o grande amor terminar e não saber muito bem em que ponto as coisas começaram a dar errado. A dificuldade em “partir para outra”. Enfim, o coração partido que muitas vezes nunca mais remenda. E esse é um tema que ecoa na memória de cada espectador.    

Bonsai (idem), de Cristián Jiménez. Com Diego Noguera, Nathalia Galgani, Gabriela Arancibia, Trinidad González, Hugo Medina. Chile/Arg/Port/Fra, 2011. 95 minutos. Première Latina.

Cotação: 7,5

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